HELDER (Herberto).— APRESENTAÇÃO DO ROSTO. Editora Ulisseia. Lisboa. [1968]. In-8.º de 217-III págs. B.
“ […] Os magníficos contos de ‘Os Passos em Volta’ abriram um caminho diferente na expressão criadora de Herberto Helder. ‘Retrato em Movimento’ retomou depois, embora numa linguagem e construção mais apuradas, o mesmo caminho de um escritor que se ‘cria’ ao escrever, que se autobiografa no próprio acto de criação. ‘Apresentação do Rosto’, outre, espécie do mesmo «retrato em movimento», é uma narrativa fragmentada, contada em sobressaltos de emoções e sentimentos, de ideias e paixões, numa escrita «circular», hermética, mais surreal do que objectivs, mas clara e límpida na sua descoberta do mundo: o homem (autor) que é o arquitecto da própria casa (o livro), o escultor da própria peça que vai lentamente modelando (o amor construído e lembrado nas imagens à distância daquilo que o ‘tempo’ lhe fez conhecer, viver e sentir).
“O «espanto», a «purificação», o «regresso às origens» fazem desta admirável autobiografia de Herberto Helder uma das obras mais autênticas da nossa moderníssima literatura.
“’Apresentação do Rosto» é, de facto, o livro de um poetya que não receia ‘pôr-se’ diante do espelho e ‘ver-se’ em profundidade com os «fantasmas» da sua verdadeira descoberta de homem que procura no ‘tempo’ a dimensão exacta da sua presença no mundo. […]”
Primeira edição, então apreendida pela Censura do Estado Novo que destruiu grande parte da sua tiragem, considerando-a uma “autobiografia do autor, que é de índole esquerdista, escrita em linguagem surreal e hermética, que como obra literária não mereceria qualquer reparo, se não apresentasse passagens de grande obscenidade”.
Capa da brochura imperfeita: com algum desgaste superficial.