QUENTAL (Antero de).— BOM-SENSO E BOM-GOSTO. Carta ao Excellentissimo Senhor Antonio Feliciano de Castilho por… Coimbra. Imprensa Litteraria. 1865. In-8.º gr. de 16 págs. B.
Terceira edição, dada à imprensa no mesmo ano da primeira, justificada pela estrondosa polémica literária ‘Bom Senso e Bom Gosto’ ou ‘Questão Coimbrã’ , suscitada por uma ‘Carta de António Feliciano de Castinho ao Editor’ inserta no livro «Poemas da Mocidade» de Manuel Pinheiro Chagas.
“Acabo de ler um escripto [No livro do sr. Pinheiro Chagas — ‘Poemas da Mocidade’], onde, a proposito de faltas de bom-senso e de bom-gosto, se falla com aspera censura da chamada eschola litteraria de Coimbra, e entre dois nomes illustres [Os snr. Theifilo Braga e Vieira de Castro] se cita o meu, quasi desconhecido e sobre tudo desambicioso.
“Esta minha obscuridade faz com que a parte de censura que me cabe seja sobre maneira diminuta: em quanto que, por outro lado, a minha despreoccupação de fama litteraria, os meus habitos de espirito e o meu modo de vida, me tornam essa mesma pequena parte que me resta tão indifferente, que é como que se a nada a reduzissemos.
“Estas circunstancias pareceriam sufficientes para me imporem um silencio, ou modesto ou desdenhoso. Não o são, todavia. Eu tenho para fallar dois fortes motivos. Um é a liberdade absoluta que a minha posição independentetissima de homem sem pretenções litterarias me dá para julgar desassombradamente, com justiça, com frieza, com boa-sé. Como não pretendo logar algum, mesmo infimo, na brilhante phalange das reputações contemporaneas, é por isso que, estando de fóra, posso como ninguem avaliar a figura, a destreza e o garbo ainda dos mais luzidos chefes do glorioso esquadrão. Posso tambem falar livremente. E não é esta uma pequena superioridade neste tempo de conveniencias, de preocupações, de reticencias — ou, digamos a cousa pelo seu nome, de hypocrisia e falsidade. Livre das vaidades, das ambições, das miserias d’uma posição, que não pretendo, posso fallar nas miserias, nas ambições, nas vaidades d’essemundo tão extranho para mim, atravessando por meio d’ellas e sahindo puro, limpo e innocente. (…).”