MACEDO (Padre José Agostinho de).— [OS BURROS]. 24 cadernos manuscritos. [S.d.]. In-4.º de 106 ff. inums. [Dim. aprox. 15×21 cm.]. E.
Valioso manuscrito da versão em 4 cantos do ‘poema satírico’ «Os Burros» [A Escôlha; A Visão; O Relatório; A Viagem], precedido da controversa «Dedicatória ao Geral dos Bernardos» [mais tarde, sob a influência de Fr. Joaquim da Cruz alterada e a partir de então dirigida contra os liberais de 1823], de um texto de «Prefacção» e de um «Prólogo». Variante do ‘Poema’ que começa: “A Sandice e barões assignalados (…), datável de 1829.
Conforme esclarece Inocêncio nas «Memórias para Vida íntima de José Agostinho de Macedo», “ (…) Foi no anno de 1812, que José Agostinho de Macedo achando-se já malquisto com todo o mundo, pelo assim dizer, pois que até muitos dos seus mais intimos amigos se haviam com elle desavindo cansados de supportar suas maneiras orgulhosas e inexhausta mordacidade, concebeu e executou o propósito de se vingar de todos, compondo o celebérrimo poema que intitulou ‘Os Burros’, a principio escripto em quatro cantos, e logo levado a seis, e ampliado em mais do dobro de sua primitiva extensão. [A Dedicatória e Introducção ao poema foram feitas no anno de 1813, e o autographo d’estas peças existia ainda em 1831 em poder de Joaquim José Pedro Lopes. (…)].
“Em 1813 quiz o Padre fazer nova reforma do Poema ampliando-o com mais dois cantos, mas somente fez o primeiro e assim ficou o poema até 1814 em que lhe tornou a mecher despresando comtudo o que já tinha feito. (…)”.
Sobre as cópias existentes diz Inocêncio no ‘Dicionário Bibliográfico Português’ que êste poema podia considerar-se inédito. “Muitas copias existem d’elle em mãos de curiosos, porém fazendo mais ou menos diferença umas das outras, de modo que será difficil achar duas perfeitamente concordes (…)”.
São por isso importantes todas as cópias manuscritas para efeitos de estudo comparativo, apresentando esta, em pé de página notas, cremos que do respectivo copista, bem como algumas propostas de diferente leitura de algumas palavras.
Alberto Pimentel, no seu importante trabalho «Poemas Herói-Cómicos Portugueses» diz: "Os ‘Burros’ são um poema que pode alterar-se ou continuar-se em qualquer época, metendo-se dentro dêle toda a gente a quem qualquer fazedor de verso solto, dispondo de ánimo bilioso, queira denegrir ou injuriar.
"Isso mesmo fez o Padre José Agostinho de Macedo que, depois de ter escrito o poema, o foi aumentando entre os anos de 1812 a 1814, para que lhe não escapassem mortos e vivos, mulheres e homens, frades e freiras, políticos, padres, médicos, escritores, os amigos dos seus inimigos, e os inimigos não dos seus amigos – mas dêle próprio."
Carlos Olavo retrata este poema em «A vida turbulenta do Padre José Agostinho de Macedo» com as seguintes palavras: “É uma obra única de perversão e de maldade, sem exemplo nos anais da nossa literature, em que José Agostinho envolveu, profilgadas em verso sujo, virulento e, por vêzes, obsceno, pessoas de tôdas as qualidades, de tôdas as classes, de tôdas as categorias e até de todos os sexos, mortos e vivos, amigos e adversários, alguns que o tinham servido, outros que nenhum mal lhe tinham feito, outros ainda que o padre aproveitou que tivessem desaparecido da vida para deles se vingar pela difamação e pela injúria.
“É um estendal de vícios e de torpezas, revelando escândalos ocultos, misérias íntimas, traições desconhecidas, algumas com verdade, outras caluniosas ou exageradas pelo ódio. (…)”.
Na primeira folha com uma assinatura de posse de Joaquim Teixeira de Carvalho Barros [1805-1871], conforme apuramos em «Ultimas Gerações de Entre-Douro e Minho»; Sargento-mor de Veade [Celorico de Basto], casado com D. Maria Pigménia de Menezes, filha herdeira de Rodrigo José de Sousa Lôbo de Menezes e de sua mulher D. Dorothea Joaquina da Fonseca Campos Verde e Almeida, snr.ª do Paço de Paredes, em S. Pedro de Avioso (Maia); o verso em branco; na segunda folha: «Dedicatória ao Geral dos Bernardos» que termina no anverso da 3.ª ff.; verso em branco; na 4.ª ff «Prefacção» que vai até ao verso da 9.ª ff.; no anverso da 10.ª ff «Prologo»; verso em branco; O início do poema começa na 11.ª ff até ao anverso da última folha; verso em branco.
Exemplar perfeitamente caligrafado, salvo alguns vestígios de humidade nas primeiras e nas últimas folhas, em bom estado de conservação. Cartonagem da época, com bonito papel estampado a cores, mas algo danificada.