GAMA (Arnaldo).— A CALDEIRA DE PERO BOTELHO. 1936. Livraria Tavares Martins. Pôrto. In-8.º de 242-II págs. B.
Interessante romance oitocentista que se define pelo rigor de reconstituição histórica, cuja acção decorre em meados do século XVI, tendo como um dos seus principais personagens o Poeta Luis de Camões desde os seus tempos de criança em Coimbra até aos finais da sua amargurada vida.
No final, encerra este romance com o epigrama de Diogo Mendes de Vasconcelos, antecedido desta curiosa nota: “Terminando, tenho a dizer ao leitor, que a historia dos amores de Diogo Botelho e D. Beatriz, bem como a caldeira de Pedro Botelho, foram tiradas da Relação de uma viagem a Espanha, escripta por Thomé Pinheiro da Veiga, que dizem ser author da celebre Arte de furtar; viagem de cujo manuscripto é possuidor o snr. Antonio Rodrigues da Cruz Coutinho, proprietario e editor d’este livro.”
A respeito da lenda que dá título a este romance publicou Flávio Gonçalves um artigo intitulado ‘A «Caldeira de Pero Botelho» na Arte e na Tradição’, onde diz: “Quando Arnaldo Gama escreveu o romance (…), inspirado no manuscrito de Pinheiro da Veiga, repetiu a explicação, aumentada pela sua fantasia de ficcionista: Pero Botelho, proprietário quinhentista da Madeira, teria morrido numa caldeira ou fornalha de pedra em que fervia suco de cana do açúcar, para dentro da qual o populacho o atirara, num movimento de revolta, ao saber que o fidalgo desejava entregar a Ilha aos piratas franceses desembarcados no Funchal. Ou porque o corpo actuasse sobre a efervescência sacarina, ou porque o seu peso aluísse o fundo velho do engenho, o conteúdo da caldeira explodiu num clarão imenso e infernal que fez desaparecer o cadáver e espantou toda a assistência, levando-a a supor «que Pero Botelho era um diabo encarnado, como evidentemente o provavam a sua soberba e a sua arrogância (…)”.
Volume integrado na colecção «Edição Popular das Obras de Arnaldo Gama».
Capa ilustrada por Augusto Gomes.