FURTADO (Eusébio Cândido Cordeiro Pinheiro).- CARTA enviada a destinatário não nomeado [provavelmente a José Bernardo da Silva Cabral,] datada de "Cast.º 16 de Fever.º de 1844. Ás 8 1/2 da noite.". Dim. 20 x 25 cm.
Curiosíssima carta de denúncia que tem ao alto a nota de "Confidencial", com interesse para a história das conspirações Setembristas contra o governo de Costa Cabral.
Eusébio Pinheiro Furtado, signatário desta carta, fidalgo da casa real e oficial de Engenharia, nasceu em 1777 em Luanda, tendo vindo a falecer em Lisboa em 1861. Incorporou o exército liberal na Ilha Terceira e foi encarregado de fortificar a Ilha. Acompanhou o exército e as operações de desembarque no Mindelo sob as ordens de D. Pedro, tendo sido ainda nesse ano graduado em coronel. Com o pôsto de brigadeiro comandou o Castelo de S. Jorge e mais tarde a Engenharia.
Sem que nos tenha sido possível identificar o destinatário e apenas dirigida ao "Ex.mo Senr, e amº" diz Pinheiro Furtado: "Fui avizado esta tarde por um velho soldado hoje empregado na limpeza da Cidade que na nova Abogaria [Abegoaria?] da Camara Municipal há boa vista, há reuniões de noite de pessoas suspeitas por que fichando-se o portão pelas dez horas, recolhidos todos os empregados se torna a abrir pela meia noite para sahir a cavallo Lopes Rocha que vai rondar a illuminação de que é Admenistrador e da limpeza, o qual só recolhe de madrugada, mas, entre a uma e duas horas da noite se abre de novo mui cautolozam.e o mesmo portão, e entrão pessoas desconhecidas que sahem antes do dia.
"Isto não pode deixar de ser feito com consentimento do Fiel e Sota d’aquelle estabelicimento que rezide dentro que os regem com plena autoridade e são façanunhos [façanhudos] setembristas.
"Será bom que V. Ex.ca tome isto em consideração o faça observar para lhe dar a atençaõ que merecer.
"Neste momento que são oito horas, torna pela 2ª vez o m.mo zellozo avizador para me dizer que já quazi noite fundeara na Caldeira da dita Abogaria uma embarcaçaõ que elle naõ sabe dizer se é Hiáte ou chainque, e que lançara prancha sobre o caes d’abogaria, e por ser couza nunca praticada lhe perguntara o Fiel com que autoridade se metia elle, o que lhe fora respondido pelo Patrão ou Cap.am que tinha licença da Camara Municipal para ali amarrar e concertar, ao que lhe tornara o Fiel que estando auzente o Admenistrador elle não podia consentir em tal e que se retirasse, do que nenhum cazo fez o Capitão, ou Patrão da Embarcação da qual sahiraõ varias pessoas que foram pretender alugar um terceiro andar de uma casa vermelha fronteira dizendo ser para alojar quarenta pessoas que devião ser empregadas no concerto da dita Embarcaçaõ; mas a pessoa a quem se derigiraõ lha negou protestando não ter commodos para tanta gente, e que não queria dinheiro adiantado, mas sim fiador. (…) Eu o transmitto a V. Exª para lhe dar a importancia e attençaõ que lhe parecer, e por entender que nesta occaziaõ nada se deve desprezar."