MIRANDA (João António Roiz de).- TRÊS CARTAS datadas de "Torres V.as 31 de Julho de 1851", "Torres Vedras 25 de outubro de 1851" e "7 de Dezembro de 1851". Dim. 13,5 x 20 cm.
Cartas sem dúvida dirigidas a José Bernardo da Silva Cabral, lendo-se na primeira: "Acabo de ler, e á preça os Jornaes de 29, e 30 do corrente, que me fazem conhecer o estado d’anarchia, em que s’acha parte das tropas da Capital! Os precedentes dos Corpos, que se tem tornado agressores, mostrao bem claramente por quem são fomentadas taes dezordens, e facillimo hé conhecer os fins, que levão em vista seos Authores. Toda hezitação pois, pode não só ser m.to prejudicial, mas até fatal, e por isso torna-se da maior conveniencia empregar todos os meios. Não sou eu, que tos heide indicar, mas fica certo, q. não hei de hesitar na execução da parte, que deva respeitar-me. A Imprensa deve ser o mais energica possivel, mesmo porque para com Rodrigo, que deve ser hoje o nosso principal alvo, só os meios energicos produzem bons resultados. (…) Que dirá agora Jozé da Silva Carvalho do seo amigo?; Segunda carta: "Vendo que cessava de publicar-se aquelle Jornal, [o Estandarte (1847-1851)] ajuizei da intenção do teu disgosto, assim como já tinha ajuizádo da traicção que te tinhão feito Correa Catorª, e compª. (…) E que me dizes á eleição do Porto? (…) Pedindo-te o (?) dos Eleitores destes sitios, [Torres Vedras] foi mª unica intenção guardá-lo commo docum.to d’alg.ª consolação para commigo; mas nunca mágoarte, por que pódes craditar, que sou dos poucos / não lhe chamarei raros / que na hora do infortunio ainda declarão altam.te, que são teos intimos am.os. Depois do que occorre não me permittia a honra fazer a declaração q. dezejava, a qual, q.do sahi-se nunca faria refer.ça nem a ti, nem áo Algés. Será verd.e, como d’ahi me dizem, que queres sahir por algum tempo para fora do Reino? Será isso acertado? (…) acredita, que neste cahos ainda devemos confiar no Destino, e n’amizade d’alguns, ainda que poucos", entre os quais o signatário se declara incluído; na terceira diz-se: "O teu silencio tem-me não só contristado, mas afflicto! Nenhua palavra tua, que me socegue, e que m’indique o teu futuro proceder, ou áo menos as tuas vistas, e isto quando os Jornaes publicão tantas noticias a teu respeito, e m.mo da tua Famillia, as quaes não posso deixar de conciderar mentirózas. Nunca acreditei na tua sahida para fora do Reino, por que não conciderava, que o fizésses sem ao menos m’enviares hum — Adeos. Vendo a devizão, que vai grassando nos nossos adversarios, vendo m.mo o estado das couzas, e dos homens, cada vez me convenço mais, que foi hum erro o acabamento do Estandarte. (…) Repara o mais depreça possivel esse erro, e não te esqueças que em Politica não há o adverbio — jamais. Parece-me, que não podes desconfiar da m.ª affeição, experimentada em bem defficies epochas, e por isso, que não porás em duvida a sinceridade, com que te fallo. (…)"