FERREIRA (Manuel) [Alfarrabista].— CATÁLOGO DA BIBLIOTECA DO ILUSTRE BIBLIÓFILO ENGº ANTÓNIO DE ALMEIDA MARQUES. Elaborado por… Leilão organizado por Soares & Mendonça. Ldª. Lisboa. [1996]. In-4.º peq. de 305-I págs. B.
Catálogo de uma das mais importantes bibliotecas particulares apresentadas para venda em leilão nos últimos anos, especialmente rica em espécies bibliográficas publicadas na segunda metade do século XX, prefaciado por Almeida Marques, distinto bibliófilo que connosco partilha as verdadeiras razões que justificaram o destino dado à sua muito acarinhada biblioteca: “ (…) A biblioteca que formei ao longo de largos anos estava em vias de morrer, de morte anunciada o que era motivo de preocupação. Por um lado a saúde vai sofrendo abanões e a descendência, com outros interesses culturais, iria a prazo distanciar-se, e se é verdade que provavelmente de início procuraria manter, quem sabe por uma questão sentimental, o conjunto, é certo que mais tarde surgiriam inevitavelmente à superfície os gostos estéticos próprios de cada um, e naturalmente a biblioteca ficaria esquecida ou seria alienada talvez até displicentemente. Em qualquer dos casos a pior das mortes.
“Então porque não morrer definitivamente já, para nascerem ou florescerem outras bibliotecas? Porque não fazer cumprir afinal a lei natural das coisas?
“Aparte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo. Continuarei a amar Camilo, Álvaro de Campos e Régio, a admirar Cesário, Nobre, Pessoa, Caeiro, Sá Carneiro, Torga, Vergílio Ferreira e outros, bastantes outros mesmo. E esta ênfase distinguindo entre amar e admirar, separar Pessoa de Álvaro de Campos e de Caeiro é mesmo intencional porque real e sentida no espírito e na alma. Com todos eles tenho convivido porque, creio, tenho um modo íntimo e pessoal de sentir, pensar, sonhar e viver. Assim foi e espero assim seja até o final.
“Despeço-me desta biblioteca com o sentimento lúcido de que tudo é transitório nesta vida e consequentemente sem dramatizar demasiado a questão. Fica, é verdade, uma certa nostalgia, uma certa saudade…. e que bela, passe o lugar comum, que é a palavra saudade! (…)”.