O CATAVENTO // ‘Dialogo’ // ENTRE UM CORCUNDA E DOUS LIBERAES // SOBRE A // CONSTITUIÇAÕ DE PORTUGAL FEITA PELAS // CORTES DE 1821 E 1822 // — PARIZ. // VENDE-SE EM PARIZ EM PANTIN EM CAZA DE MR. // ANOLPMAP, E EM LONDRES NA DE [sic] // —— // 1826. In-4.º de II-54 págs. Desenc.
Raríssimo folheto supostamente publicado em Paris, publicado sob anonimato,
A propósito deste opúsculo e outro intitulado ‘Bota-Fóra do Catavento, ou a cabeça de bacalhau fresco…’, diz Inocêncio no ‘Dicionário Bibliográfico Português’: “Tanto em um como em outro d’estes opusculos, são egualmente supostas as indicações; porque o simples exame dos exemplares é sufficiente para não restar duvida de que ambos foram impressos em Londres. Ha quem pretenda que algum d’elles, se não ambos, sahiram da penna de Joaquim Ferreira de Freitas (o Padre Amaro); e não faltou quem attribuisse o segundo a J. B. de Almeida Garrett: porém sobre estas opiniões prevaleceu a que lhes dá por auctor J. J. Ferreira de Moura. Seja como fôr, os taes folhetos são duas satyras politicas escriptas ambas contra José Ferreira Borges, que durante a sua emigração em Londres dera provas de versatilidade declarando-se contra a constituição de 1822, para cuja feitura concorrêra do modo que é sabido. É elle que no primeiro folheto apparece personalisado sob o nome de ‘João Ayres’, (…).
Brito Aranha contribui também no mesmo ‘Dicionário’, dando outras notas acerca da autoria dos opúsculo no vol. XII, págs. 366 e 367.
Inocêncio dedica amplo espaço a José Joaquim Ferreira de Moura, natural de Villa Nova de Foz-Côa, “matriculou-se na faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, e n’ella tomou o grau de Bacharel (…). Propondo-se entrar na vida da magistratura, foi despachado Juiz de fóra da villa de Aldêa-gallega do Ribatejo, logar (…) que ainda exercia segundo creio, quando o exercito francez invadiu o reino em 1807. Sendo então incumbido pelo general Junot de trasladar para portuguez o codigo-Napoleão, com o qual se contava substituir a velha legislação patria, a acceitação e desempenho d’esse encargo, e não sei se algumas outras provas que por ventura daria da affeição aos invasores, o tornaram mal-visto dos patriotas, e suspeito de ‘jacobinismo’, de modo que ficou por alguns annos fóra do serviço, tendo de retirar-se para a terra do seu nascimento (…). Decidido apologista das idéias liberaes, abraçou com enthusiasmo os principios politicos proclamados no Porto em 24 de Agosto, e em Janeiro de 1821 tomou assento no congresso constituinte, eleito Deputado pela provincia da Beira. Ligado intimamente com Manuel Fernandes Thomás, ao qual se associou para a redacção do jornal ‘O Independente’, houve parte mui activa e conspicua nos trabalhos d’aquellas côrtes, em que foi membro das commissões mais importantes, e varias vezes eleito presidente. (…). A popularidade, de que se mostrára tão sequioso, não o abandonou, pois que nas Côrtes immediatas de 1822 o vemos reeleito simultaneamente pelos circulos de Castello-branco, Trancoso, Coimbra e Aveiro. Em Junho de 1823 emigrou para Inglaterra, e lá esteve até que a mudança politica, trazida com a Carta Constitucional, lhe permittiu voltar em 1826. (…)”.