SÁ (José António de).- COMPENDIO // DE // OBSERVAÇOENS, // Que fórmaõ o plano da Viagem Politi- // ca, e Filosofica, que se deve fa- // zer dentro da Patria. // DEDICADO // A SUA ALTEZA REAL // O SERENISSIMO // PRINCIPE DO BRASIL // … // LISBOA // Na Officina de Francisco Borges de Sousa. // ANNO M.DCC.LXXXIII. In-8.º peq. de XVIII-248 págs. E.
Obra dedicada a D. José, Príncipe do Brasil (filho primogénito de D. Maria I e de seu consorte D. Pedro III).
Oliveira Marques na «História da Maçonaria em Portugal» diz: “A Maçonaria ia-se desenvolvendo lentamente, com a entrada e o interesse de muitos nobres e intelectuais. Disse-se até que o príncipe herdeiro, D. José, a quem outrora o Marquês de Pombal visara como sucessor imediato de seu avô, em detrimento de D. Maria, era o «Protector e Grão-Mestre» da Maçonaria em Portugal. (…)
“No entretanto, fundava-se em Lisboa aquilo a que podemos chamar a primeira organização paramaçónica portuguesa: a Academia Real das Ciências. Com Estatutos aprovados em 24 de Dezembro de 1779, a Academia Real das Ciências começou efectivamente a funcionar em 1780. (…)”.
Certamente inspirado nas ‘Viagens filosóficas’ científicamente orientadas por Domingos Vandelli, catedrático de botânica da Universidade de Coimbra, José António de Sá (Oppositor de Cadeiras de Leis da Universidade de Coimbra, e Correspondente da Academia das Sciencias de Lisboa) propõe neste ‘Tratado’ destinado a instruir os interessados em História Natural: “Como os systemas de Historia Natural saõ ha poucos annos estudados no nosso paiz, ha muita gente, aliàs, instruida, que, sendo capaz de observar, e descrever a Natureza, não tem ainda uso, nem conhecimento dos systemas. E sendo muito para desejar que cada hum haja de estudar, e conhecer, quanto puder, o seu paiz, pareceo-me que reduziria em utilidade da Patria estes genios curiosos, e instruidos, facilitando-lhes neste Compendio os caminhos da observaçaõ, e descripçaõ: e porque podiaõ causar-lhe novidade alguns termos technicos da Historia Natural, lembrei-me de os explicar em notas, para evitar assim tudo, o que pudesse, offrecer confusaõ, e obscuridade.
“Dividirei em tres partes o presente Tratado Politico-Filosofico. Na primeira fallarei em geral sobre a Viagem, (…) notando as riquezas de Portugal, e a necessidade que ha de ser Viajado (…). Na segunda indicarei as qualidades do Viajante, e as regras, a que se deve unir para obter os conhecimentos proprios da Politica, e Filosofia, que tem por objecto a Agricultura, Comercio, Letras, e Armas, e os trez Reinos da Natureza Animal, Végetal, Mineral. Na terceira, e ultima exporei os methodos adoptados pelos melhores Viajantes, a fim de bem preparar, e remetter os productos da Natureza, para o nosso Museo Nacional (…)”.
Do muito interessante ‘Índice dos Capítulos’ começamos por transcrever aqueles que não são de carácter generalista: Da Fabrica de Sedas de Traz os Montes; Historia da Fabrica de Sedas de Bragança, e Chacim; Dos methodos de fiar a Seda em Traz os Montes; Dos methodos, que em Bragança usaõ os Fabricantes de Seda; Observação do MOnte de Montezinho; Do lugar de Montezinho; Do Termo, e Lugar de França; Da Villa de Chacim. Dada a curiosidade e interesse ciêntifico desta obra, não pudemos deixar de referir entre tantos outros, os seguintes capítulos: Da utilidade da Viagem: necessidade, que tem Portugal de ser viajado (…); Das riquezas, e produtos de Portugal; Da Economia, e Origem das Artes; Das obrigações do Viajante na Viagem Política, e Filosofica; Das qualidades do Viajante; Sobre Agricultura; Sobre o Commercio; Sobre as Letras; Armas; Das Agoas; Do Reino Animal; Mamaes; Das Aves; Dos Anfibios; Dos Peixes; Dos Vermes; Do Reino Vegetal; Do Reino Mineral; Sobre as Terras; Pedras; Minas; Dos Fossis; Dos Montes; Dos Montes Metallicos; Dos lugares subterraneos; De preparar, e remetter os productos naturaes para o Museo Nacional; Da preparação dos Quadrupedes; Das Aves; Dos Anfibeos; Dos Peixes; Dos Insctos; Dos Vermes; Dos Animaes Crustaceos; Dos Esqueletos; Do Reino Vegetal; Do Reino Mineral; Das Remessas; Dos Instrumentos, que devem levar-se em humma Viagem; Dos Diarios, etc.
Com dois mapas desdobráveis impressos de ambos os lados, de cuidada composição tipográfica [dim. 29 x 20,5 cm.] intitulados «Diário Político» e «Diário Filosófico».
O autor, natural de Bragança, formou-se em Leis na Universidade de Coimbra, onde recebeu o grau de Doutor em 1782. Para além da sua importante obra impressa, desempenhou elevados cargos como magistrado entre os quais se salientam o de Juiz de Fora em Moncorvo, o de Desembargador da Relação do Porto e o de juiz-conservador da Real Companhia da Fiação e Tecidos de Seda. Foi ainda director da Real Fábrica das Sedas e Águas Livres, onde desempenhou importante papel na implantação dessa indústria em Portugal.
Encadernação em carneira, da época, com as pastas um tanto esfoladas. Pouco importantes vestígios de traça.