PEREIRA (Nuno Marques).— COMPENDIO // NARRATIVO // DO // PEREGRINO // DA AMERICA, // EM QUE SE TRATAM VARIOS DISCURSOS // espirituaes, e moraes, com muitas advertencias, // e documentos contra os abusos, que se achaõ // introduzidos pela malicia diabolica // no Estado do Brasil. // OFFERECIDO A NOSSA SENHORA // DA VICTORIA, // ‘IMPERATRIZ DO CEO, RAINHA // do Mundo, e Senhora da Piedade, Mãy de Deos’. // AUTHOR // NUNO MARQUEZ PEREIRA. // [xilogravura] //LISBOA: // Na Offic. de ANTONIO VICENTE DA SILVA. // ANNO MDCCLX. // — — — — — // ‘Com todas as licenças necessarias’. In-8.º gr. de XXXII- 475 [aliás 477]-[I] págs. E.
Quarta e muito rara edição desta importante obra da bibliografia brasiliana, que descreve, de forma devocional, a vida quotidiana da Bahia e de Minas Gerais durante o período do ciclo do ouro brasileiro.
«(…) Através da análise do ‘Compendio Narrativo do Peregrino da América’, … comprova-se que o autor tinha bastantes conhecimentos de história sacra e profana, bem como de aspetos ligados às ciências naturais. O seu nome aparece quase em exclusivo ligado à referida obra que, como o próprio título indica, se trata de uma narrativa do percurso do ‘peregrino’ no espaço do nordeste brasileiro, transmitida através do diálogo com o ‘ancião’, símbolo da experiência humana. Procura demonstrar as virtudes da vida piedosa, ensinadas pela doutrina cristã, não deixando, neste contexto, de se preocupar com a sorte dos “escravos e gente vagabunda”. No decurso da viagem dá a conhecer pormenores interessantes sobre os locais que atravessa e, dessa forma, fornece dados sobre a sociedade brasileira da época, com incursões em domínios como a poesia e a música. (…). Embora composto por um conjunto disperso de parábolas, este livro, que constituiu um enorme êxito popular, tendo sido o de maior divulgação no Brasil durante o século XVIII, poderá integrar-se, de acordo com a teoria em voga nesse período, no domínio do romance alegórico de fundo moral e espiritual, bem ao gosto do barroco. Ao longo do livro, enquadrados em diferentes capítulos, o autor engloba diversos poemas, numa demonstração de ter encontrado o devido espaço na obra para também exibir dotes poéticos.» [’in’ «Dicionário de Autores no Brasil Colonial» de Palmira Morais Rocha Araújo].
Borba de Moraes, para além de registar na «Bibliographia Brasiliana» as cinco edições impressas durante o século XVIII, dá pormenorizada e esclarecida notícia na «Bibliografia Brasileira do Período Colonial» a propósito dos erros gerados por Inocêncio, Sacramento Blake e José Carlos Rodrigues ao confundirem datas e suporem edições que não existem.
Acrescenta o eminente bibliógrafo na «Bibliographia Brasiliana»: “The ‘Peregrino da America’ was considered by some scholars to be the first Brazilian novel, an opinion no longer shared by modern scholars of Brazilian literature.
“Varnhagen was the first to call the attention of scholars to this forgotten work, a book by a Brazilian about Brazil which was widely read in the eighteenth century and which is of great importance today for the portrait it gives of the social life, manners and customs at that time of the common people in Bahia and Minas Geraes. It seems that the ‘Peregrino da America’ was still read in Bahia at the beginning of the nineteenth century, and in fact Lindley met a Catholic Englishman called Gordon in Bahia who recommended that he read it (Authentic narrative… p.116). Varnhagen noticed that he copies he saw were worn by many readers. (…).
“The first edition is very rare, the others are less scare but are not common. Copies in good conditions are difficult to find because all editions, except the first, were printed on poor paper.”
Encadernação da época, inteira de carneira. Na folha de guarda com uma assinatura de ‘Ignácio Pereira Baptista’.
Junto à lombada e no canto inferior, com manchas, cremos que de gordura e alguns pequenos restauros antigos.