BARROS (João de) [1496-1570].— COMPILACAÕ // DE // VARIAS OBRAS // DO INSIGNE PORTUGUEZ // JOAM DE BARROS, // DIRIGIDAS PELO MESMO AUTOR // AO MUITO ALTO, E EXCELLENTE // PRINCIPE D. FELIPE. // Impressas em lisboa em caza de Luiz Ro- // driguez Livreiro d’Elrey, pelos an- // nos de 1539, e 1540. // ‘E agora reimpressas em beneficio público // pelos Monges da Real Cartucha de // N. S. da Escada do Ceo.’ // [florão decorativo] // LISBOA // Na Officina de Jozé da Silva Nazareth. // ANNO M.DCC.LXXXV. // ‘Con licença da Real Meza Censoria.’ In-8.º de XIV-[II]-VIII-340-IV págs. E.
Publicação bastante invulgar, feita a partir de um raríssimo exemplar pertencente ao Mosteiro da Cartuxa.
Edição ilustrada com um curioso alfabeto ideográfico e um silabário com uma esfera zodiacal ao centro.
Do Prólogo: “[…] Destes rarissimos escriptos conserva-se na Livraria da Real Cartucha de Evora huma Compilaçaõ de tanta gloria para o seu Auctor, e de tanto interesse para o Público, que os Monges do mesmo Mosteiro se consideraõ obrigados a concorrer para a utilidade commum, fazendo que esta luz já quasi extincta torne a viver no mundo para dissipar em grande parte as trévas, que sobre elle tem espalhado o esquecimento, e a mudança dos costumes daquelles saudosos tempos.
“Foi huma das gloriosas emprezas deste Sabio, e honrado Portuguez, a educaçaõ da mocidade; e para este fim escreveo os tratados, que nesta Compilaçaõ se contém, nos quaes lhes dictou os primeiros elementos da piedade, e da sciencia. […]”.
Para além da respectiva folha de rosto, «Privilégio» e «Prólogo» insertos nas págs. preliminares, a presente edição compreende as seguintes obras: «Grammatica da Lingua Portuguesa, com os mandamentos da santa madre igreja» [Cartinha]; «Grammatica da Lingua Portugueza [Olyssipone. Apud Lodouicum Rotorigiũ Typographum. M. D. XL.]; «Da Orthografia»; «Dialogo em Louvor da Nossa Linguagem»; «Dialogo da Viçiosa Vergonha [olyssippone. Apud Lodouicum Rotorigiũ Typographum. M. D. XL.]
A propósito do «Dialogo em Louvor da Nossa Linguagem», diz Luciano Pereira da Silva num artigo publicado no «Boletim Bibliográfico da Biblioteca da Universidade de Coimbra» [Vol. IV, n.º 1 a 6]: “As obras pedagógicas de João de Barros, que hoje são uma raridade bibliográfica, estão a pedir nova reimpressão. O’Diálogo’, que adiante se reproduz conforme a 2.ª edição, feita em 1785 pelos monges da Cartucha de Évora [«Compilação de várias obras do insigne portuguez Joam de Barros», Lisboa, 1785], da qual existe um exemplar na Biblioteca da Universidade de Coimbra, não havendo lá nenhum da edição princeps de 1540, é principalmente destinada aos alunos da cadeira de História da Pedagogia.
“Neste interessante ‘Diálogo’ formula João de Barros excelentes preceitos que bem mostram as suas qualidades de pedagôgo. Comecemos por notar a justa vivacidade com que se insurge contra a praga dos incompetentes em exercício das funções do magistério […].
“Seguindo o preceito «de gráo em gráo, de pouco a mais», condena a prática de ensinar os meninos a lêr pelos feitos judiciais, escritos por mão de tabeliães. Quere que os ensinem primeiro pela letra redonda, para o que compôs a sua ‘Cartinha’ de aprender a lêr, e não pela letra tirada […].
“Mas o mais importante é êle querer que a base do ensino seja a língua materna, a língua portuguesa, e não a latina […].
“Acima, porêm, das considerações pedagógicas, a língua portuguesa é um poderoso instrumento de expansão do Império português.
“Já Fernão d’Oliveira, autor da primeira Gramática portuguesa (1536), aconselhava: «e nam trabalhemos em lingua estrangeira, mas apuremos tanto a nossa com bõas doutrinas q̃ a possamos ensinar a muytas outras gentes e sempre seremos dellas louvados e amados porq̃ a semelhança he causa do amor e mays em as linguas […].
A título de referência bibliográfica, recordamos que oitenta e quatro anos após esta edição, em 1869, por diligência do Visconde de Azevedo, foi publicado como complemento á «Compilação de varias obras do insigne portuguez João de Barros», um volume de tiragem limitada a apenas 104 exemplares que inclui as obras «Ropica pnefma» e o «Dialogo com dous filhos seus sobre preceitos moraes». [Porto. Impr. em casa do Visconde de Azevedo, MDCCCLXIX].
Encadernação contemporânea com lombada de pele. Na folha de rosto com um carimbo do «Seminario Episcopal dos Carvalhos»