COIMBRA (Leonardo).— O CRIACIONISMO. (Esboço de um sistema filosófico). (…). Biblioteca da Renascença Portuguesa. Pôrto. 1912. In-8.º gr. de VIII-311-V págs. B.
Obra fundamental para o estudo do pensamento de Leonardo de Coimbra e do ‘Criacionismo’, sistema filosófico que muito influenciou o ambiente cultural português do seu tempo.
Primeiro livro do autor e tese de concurso para professor assistente do grupo de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
“(…) no momento da estreia, acontecida aos vinte e oito anos, o autor era já visto no meio portuense como pensador original, pois desde 1906 dera à estampa em publicações periódicas ensaios e estudos que foram firmando a sua reputação de prosador de ideias, capaz de desenvolver em sentido próprio as inquietações do livre pensamento imediatamente anterior, de Pedro de Amorim Viana (1823-1901), autor da Defesa do Racionalismo e Análise da Fé (1866), a Sampaio Bruno. Os seus textos de 1907 a 1909, aparecidos em duas publicações anarquistas portuenses, A Nova Silva e A Vida, surgem tocados por uma ânsia de liberdade, uma veemência de tom, uma agilidade de pensamento, um frémito de amor, que, não recuando diante de nenhuma circunstância, preconceito ou fronteira, se fazem já então as marcas reconhecíveis do criacionismo posterior. É neste período de génese que Leonardo elabora uma nova terminologia crítica, a do paganismo espiritualista ou transcendente, que, servindo ao autor para ler o saudosismo dos poetas da nova escola saudosista, será retomada e desenvolvida pelo Fernando Pessoa do transcendentalismo panteísta.
O criacionismo surge assim como uma síntese desenvolta e generosa das primeiras preocupações de Leonardo. Trata-se de um pensamento vivo, antidogmático, que parte de um entendimento experimental da razão, aberto à intuição e à imaginação; nele o acto de conhecer não se resume a um processo fechado de raciocínio mental, antes se desenvolve num acto aberto aos sentidos e à imaginação. Para o criacionismo de Leonardo Coimbra a realidade não está criada; só o pensamento, o pensamento pessoal, dinâmico, inesgotável, aberto e livre, a cria ou vai criando. Daí o criacionismo do pensamento de Leonardo, sinónimo de experimentalismo, de antidogmatismo, de optimismo, de confiança no papel do homem no mundo, de abertura a todas as faculdades humanas, sensitivas ou mentais. O criacionismo opõe-se assim àquilo que Leonardo chama o coisismo, quer dizer, as visões fechadas, dogmáticas, fatalistas, que dão a realidade, seja ela moral, social ou material, como determinada e acabada, antes mesmo do pensamento a abordar. (…) [‘in’ Arquivo Virtual da Geração de Orpheu: António Cândido Franco]
Exemplar por abrir. Capa da brochura com pequenas defeitos..