PRIMEIRO JORNAL IMPRESSO NOS AÇORES, DE GRANDE IMPORTÂNCIA PARA A HISTÓRIA DA «REGÊNCIA LIBERAL»
CHRONICA DA TERCEIRA. [N.º 1 — 17 de Abril. 1830 a N.º 44 — 27 de Março. 1831]. [ANGRA: Impressão do Governo]. In-fólio peq. 44 números + 3 suplementos.
—— A CHRONICA. ‘SEMANARIO DA TERCEIRA.’ [N.º 1— 3 de Abril. 1831 a N.º 41 — 29 de Maio. 1832]. [ANGRA. Na Imprensa do Governo, a partir do N.º 39 de 4 de Maio de 1832, impresso em PONTA DELGADA. Na Imprensa do Governo]. In-fólio gr. 41 números + 14 suplementos. E. em 2 vols.
Publicação periódica de extrema raridade e importância para a história da ‘Regência Liberal’ nos Açores, e também para a história da imprensa periódica açoreana, por ter sido o primeiro publicado no arquipélago.
No ‘Dicionário Bibliográfico Português’ recorda Inocêncio, a propósito do artigo dedicado a Simão José da Luz Soriano, primeiro redactor da ‘Chronica da Terceira’: “ (…) Era estudante na Universidade em 1828, quando se ligou á revolução constitucional do Porto, proclamada em 16 de Maio. Pelo mallogro d’essa revolução emigrou com os corpos que a sustentavam para Hespanha, fazendo parte do batalhão de voluntarios academicos, e de lá para Plymouth, onde elle e seus camaradas se viram reduzidos á condição de simples soldados, dando-se-lhes por quartel um casarão sem vidraças, e servindo-lhes de cama alguma palha nos primeiros dias [Barracão de Plymouth]. De Inglaterra passou para a ilha Terceira em Fevereiro de 1829, vindo depois na expedição ao Porto em 1832; em cujo cerco serviu militarmente, até entrar como Amanuense de primeira na Secretaria d’Estado dos Negocios da Marinha (…). O numero dos escriptos d’este nosso contemporaneo é já avultado, e d’elles recommendaveis alguns pelo assumpto, outros pelas circumstancias que determinaram a sua composição. (…). Começou esta publicação [Chronica da Terceira, Angra, Imp. do Governo 1830] tornada semanal em 17 de Abril de 1830, havendo anteriormente a essa data dado á luz varias folhas avulsas com a narração dos successos e noticias politicas do tempo. Depois de redigir os primeiros doze ou quinze numeros d’esta folha, retirou-se da sua redacção, em consequencia de desintelligencias occorridas entre elle, e o Duque (então Marquez) de Palmella, sendo n’esse encargo substituido pelos dous academicos Elias José de Moraes, e José Estevam Coelho de Magalhães, e emfim pelo official do batalhão de voluntarios da rainha João Eduardo de Abreu Tavares. Os n.ºs 1 a 27 d’esta folha official sahiram no formato de folio pequeno; e os restantes no formato de 4.º, formando uma nova serie que começou em o n.º 1 e findou com o n.º 41, acabando em fins de Junho de 1832, nas vesperas da partida da expedição que se dirigia ás praias de Portugal. A collecção completa d’este periodico é hoje bem rara; e diz-se que alguem chegára a compral-a por 12:000 réis, e ainda por maior quantia.”
Ainda a propósito, transcrevemos do minucioso e imprescindível trabalho de José Tengarrinha «Nova Historia da Imprensa Portuguesa…»: “(…) Após a chegada de Palmela e José António Guerreiro a Angra, onde iniciaram o trabalho na Regência, esta fez sair, como seu órgão oficial, o semanário ‘Crónica da Terceira’ que teria um papel muito importante na sustentação da causa liberal. O número 1 saiu em 17 de abril de 1830 e o número 44 e último em 27 de março de 1831. Até ao número 10 ou 12 foi redactor o membro do corpo de voluntários académicos Simão José da Luz Soriano e depois, até ao número 39 ou 40, os também académicos Elias José de Morais e José Estêvão Coelho de Magalhães e, por fim, o capitão de voluntários da rainha João Eduardo de Abreu Tavares. Podemos imaginar os esforços e os desinteressados sacrifícios que seriam necessários para fazer sair, regularmente, este órgão do governo liberal. Diz a tradição que, além de redator, Luz Soriano foi também compositor e impressor do periódico, «na falta de oficiais próprios para tais misteres». Supõe-se que o mesmo teria acontecido com os outros redatores. O prelo e o material tipográfico, muito rudimentares, com que o jornal foi feito haviam sido comprados por Palmela num leilão em Inglaterra e transportados por uma galera americana que chegou a Angra em 11 de fevereiro de 1829 e onde seguiram também os emigrados académicos reunidos em Plymouth. Foi nessa imprensa, a primeira dos Açores, que se imprimiram as ordens do governo provisório e os famosos decretos de Mouzinho da Silveira demolindo o Portugal Velho e lançando as bases do Novo Portugal. O jornal dirigia-se, em primeiro lugar aos portugueses reunidos na ilha Terceira, informando-os dos atos da Regência e das restantes autoridades, bem como de acontecimentos estrangeiros que interessassem à causa liberal portuguesa, inserindo ainda artigos doutrinários. Precisando a sua linha editorial, advertia de que «nem procuraremos oferecer-lhes esperanças sem fundamento nem encobriremos os obstáculos e estorvos que possam retardar o resultado feliz por que todos aspiramos».
“Seguiu-se-lhe, também como órgão oficial da Regência e com os mesmos redatores, ‘A Crónica: Semanário da Terceira (Angra, 3 de abril de 1831-29 de maio de 1832, 41 números). A partir do número 39, de 4 de maio de 1832, mudou o subtítulo para «Semanário dos Açores», sendo produzido na mesma imprensa, mas em Ponta Delgada, porque o exército liberal passou a organizar-se na ilha de São Miguel. Com a saída da expedição liberal em junho de 1832 suspendeu a publicação, mas logo depois a imprensa voltou para Angra. ‘A Crónica’ foi o antecessor da célebre ‘Crónica Constitucional do Porto’ (…)”.
Exemplar bastante estimado, recentemente encadernado.
Colecção completa, com os suplementos da ‘Chronica da Terceira’ aos números 23, 25 e 43 e ainda uma «Folha extraordinaria da Chronica da Terceira, publicada no dia 13 de Dezembro de 1830; os suplementos aos números 6, 15, 16, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33 e 41 da ‘Chronica. Semanario da Terceira’ e uma folha desdobrável, geralmente colocada entre os n.º 5 e 6, datada de Angra, 10 de Fevereiro de 1832, intitulada ‘Conta geral em Resumo, e demonstrativa de todas as transacções, que o Administrador dos Tabacos, Saboarias, Papel Sellado, e Cartas de jogar, ‘Izidoro Schiappa Pietra’, teve com a Fazenda Publica, durante a sua Administração, que teve principio em 14 de Fevereiro de 1830, e finalizou em virtude do Decreto de 10 de Janeiro de 1831.’