MANUSCRITO SEISCENTISTA DA CRÓNICA DO CONDESTABRE DE PORTUGAL
DOM NUNO ALVAREZ PEREIRA
Caronica do Condestabre dõ nuno alv. // perª principiador da Casa de Bargança // sem mudar dãtiguidade de suas pala // vras nem estilo E deste Condestaber // procedem agora El Rei dõ Joaõ terceiro // noso Sr’E o Emperador q dos muy Reinos // de cristaõs E os de Europa os Reis ou // Rainhas ou ambos. Caderno manuscrito [dim aprox. 21×29 cm.] com 100 ff. E.
No cólofon: “Acabouse de emprimir a Caroniqua do Conde // destabre dom nuno alveres prª, na cidade de Lisboa // a 10 dias do mes de outubro no anno de mil e qui // nhentos e sincoenta e quatro no annos per German Galharde empremidor”.
Cópia manuscrita da segunda edição desta importante ‘Cronica’’, pela primeira vez impressa por Germão Galharde em 1526 e em 1554 novamente dada à imprensa pelo mesmo impressor.
Trabalho provavelmente elaborado dada a extrema raridade das edições que o precederam, julgamos ser possível tratar-se do exemplar que serviu para a composição da terceira edição e única publicada no século XVII, impressa nas oficinas de António Álvares, em 1623 e dedicada a D. Teodósio, Duque de Bragança.
Para uma melhor identificação da origem deste valioso documento, será de salientar uma assinatura de Tabelião, manuscrita na pasta da frente da encadernação e ainda um monograma de Pedro de Sousa Holstein, 1.º Duque de Palmela, impresso a óleo na primeira página do manuscrito.
Da edição crítica da ‘Coronica do condestabre’ de Adelino Almeida Calado [Estoria de Dom Nuno Alvres Pereira. Coimbra. 1991], transcrevemos: “Apercebemo-nos […], da singularidade e interesse da ‘Coronica’ no plano da historiografia medieval portuguesa, e dos problemas que rodeavam as edições então existentes, e sabíamos que o próprio texto apresentava problemas que constituíam um desafio a qualquer editor de textos. […].”
A propósito da segunda edição diz A. A. Calado na «Estoria de Dom Nuno Alvres Pereira»: “Foi ele [German Galharde] também que lançou em 30 de Outubro de 1554 uma nova edição que, só pelo facto de ter sido possível ou necessária, testemunhava a exiguidade da tiragem da primeira […], então certamente esgotada havia bastante tempo; significava também que o impressor havia sido bem sucedido no emprendimento anterior, inclusive no modelo gráfico; e denotava a sustentação do interesse pela personalidade do Condestável. […].
“Relativamente ao texto, o cotejo de alguns passos das duas edições revela, através da identidade de certas particularidades, o acompanhamento que a segunda faz da primeira, sobretudo quando ambas apresentam expressões que só poderiam ser iguais quando uma delas copiasse literalmente a outra. Os exemplos mais elucidativos são, naturalmente, as expressões erróneas ou de interpretação difícil contidas na primeira edição, e que são transpostas para a segunda tal como se encontram. […].
“A raridade dos exemplares (a denotar, em princípio, mais uma tiragem limitada) é quase tão grande como a dos que haviam saído vinte e oito anos. António Anselmo refere dois exemplares na Biblioteca Nacional, um no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, outro na Biblioteca da Ajuda [Este exemplar já não se encontra na Biblioteca da Ajuda, mas sim no Palácio Ducal de Vila Viçosa] e um quinto em Estugarda.
“Passaram mais sessenta e nove anos até à saída da terceira edição, uma das que menos têm ocupado os bibliógrafos, que concentram a sua atenção nas edições quinhentistas: trata-se da edição publicada em Lisboa por António Álvares, impressor e mercador de livros, em 1623.
“Esta edição fala mais de si própria do que qualquer das anteriores. A própria página de título contém já bastantes informações. Embora o editor faça um esforço por transcrever o que lhe pareceu que era fundamental no texto que lhe serviu de base (e adiante veremos qual foi), não evita algumas pequenas alterações que julga dever introduzir para não chocar os seus leitores ou mesmo para os atrair. […].
“Uma simples leitura do texto denuncia rapidamente que esta edição foi baseada na de 1554 e não na de 1526. Dão-nos essa certeza várias passagens divergentes entre as duas edições quinhentistas, passagens em que verificamos estar a ser seguida a versão da segunda edição e não a da primeira. […]. Se atentarmos em alguns pormenores dos exemplos ficamos a saber também que na edição de 1623 se procedeu a ligeiras alterações de grafia, e podemos acrescentar que se adoptou inicial maiúscula para todos os nomes próprios.
“Relativamente a esta edição só queremos concluir recordando o facto (muito importante, aliás) de ter sido publicada em pleno período de governação filipina, com o pormenor de ter sido dedicada a D. Teodósio, duque de Bragança, e presumível ocupante do trono de Portugal em caso de restauração da soberania nacional. A ‘Chronica do Condestabre’ iria, assim, alinhar na falange de obras que, durante esse período, se conjugaram para manter bem desperto o espírito nacionalista que em 1640 teria projecção em termos práticos.
Encadernação em pergaminho flexível, com vestígios de atilhos, manuscrita na lombada com o título “Cronica do Condestavel”; na capa frontal com os seguintes dizeres: “Chronica do Conde // Dom Nuno Alveres Pereira // instituidor da Casa dos duques // de Bragança hoje Reis de // Portugal [daquem e dalem mar] // em Africa [???] // da Conquista // Navegações [???]. Com um sinal de Tabelião que não identificamos; na capa posterior: “Choronica do Code D. // Nuno Alverez Pereira // [com uma assinatura que não identificamos].
Na primeira folha com o monograma de Pedro de Sousa Holstein, 1.º Duque de Palmela, impresso a óleo na primeira página do manuscrito.
Documento resguardado numa esmerada caixa em madeira de nogueira, revestida no interior por tecido vermelho.