CAMARA (Paulo Perestrelo da).— DICCIONARIO GEOGRAPHICO HISTORICO POLITICO E LITTERARIO DO REINO DE PORTUGAL E SEUS DOMINIOS Contendo a descrição das suas Provincias, Districtos e Colonias, Cidades, Villas, Aldêas e Lugares principaes; sua população, superfície, industria, commercio, agricultura, producções dos tres reinos da natureza; seus rios, montes, portos, lagos e mais notaveis curiosidades naturaes e monumentos; o rendimento, despeza e divida do Estado, força de terra e mar, forma de governo, divisão politica, militar e ecclesiastica, caracter e costumes dos habitantes, Ordens militares e a genealogia das Rainhas, Principes e princezas que em Portugal tem havido.Finalmente a sua Historia Litteraria até o presente na qual se dá noticias de perto de trezentos escriptores dos mais notaveis, e finaliza com a sua historia politica até a época actual. Obra colligida e composta durante muitos annos de residencia, conhecimentos locaes e bastantes investigações no Reino, bem como com o auxilio de numerosos manuscriptos e de obras publicadas em diversas linguas por escriptores tanto antigos como modernos e de muitos documentos officiaes (…). Rio de Janeiro. (…) Eduardo e Henrique Laemmert. 1850. 2 vols.
O autor, nascido no Funchal [Ilha da Madeira] em 1810, mereceu de Innocencio Francisco da Silva severa crítica a propósito do ‘Diccionário Geográfico’ que agora apresentamos: “Este titulo e o prologo não menos apparatoso, contrastam singularmente com o espírito de superficialidade e deficiencia de investigação e critica, que reinam por todo o decurso da obra, e que a tornam incapaz de ser consultada com confiança pelos que só se aprazem de encontrar exactidão e verdade. (…)”.
O autor, considera no «Prologo» que “Mui raras são as obras que modernamente tem sahido á luz sobre a geographia de Portugal, a não serem traducções ou repetições de anteriores compendios que pouco ou nada adiantão. Destacadamente porém algumas boas noticias topographicas se publicarão no ‘Panorama’, e outras politicas na ‘Revista de Lisboa’: algumas chorographias de provincias isoladas as tinhão precedido, taes como a Caboverdiana, a Açoreana, a de Moçambique, e finalmente a volumosa porém pouco selecta e noticiosa estatistica de Balbi. Estas ultimas obras, comtudo, além de não corresponderem ao designio esperado, não são de recente data. Este inconveniente, ainda que leve em certas circumstancias, prejudica essencialmente aos escriptores que tem por objecto a descripção de um paiz que, como Portugal, ha quasi meio seculo tem sido o theatro de continuas convulsões politicas, convergindo mais ou menos para a anniquilação de suas anteriores instituições, e a retrogradação ou progressos da sua civilização. As mais exactas noções pois sobre o seu estado tem por assim dizer caducado de década em década, em virtude das frequentes borrascas que mais de uma vez lhe derribarão o edificio social pelos alicerces.
“Debalde se tentaria só com as supraditas obras, seja qual fôr o seu merecimento, e com algumas outras pela maior parte de autores estrangeiros, coordenar um compendio regular do que mais notavel apresenta o nosso paiz tão mal avaliado por quem o não conhece. A falta de um ‘Tratado Geographico – Historico – Politico e Litterario’, que fiel e imparcial guiasse os amadores e investigadores das cousas patrias na elucidação de tantas materias, e desmentisse as patranhas e os absurdos, filhos da ignorancia, da philaucia e do egoismo, com que a officiosa França ou Inglaterra nos mandão por esmola todas as vezes que seus escriptores fallão de Portugal, esta lacuna se fazia geralmente sentir. — Emprehendemos pois no presente escripto apresentar a maior copia de noticias que encerrar-se possa no quadro de dous volumes, a respeito da monarchia portugueza, aproveitando-nos de alguns trabalhos já existentes, do fructo de nossas indagações e informações praticas, pois grande parte das terras e cousas que descrevemos é segundo nossos conhecimentos locaes. Até mesmo a posição official que occupámos na confecção do cadastro do reino e da resenha dos espolios das extinctas communidades religiosas, nos elucidou em muitos pontos na parte estatistica, litteraria, monumental e de antiguidades. (…)”.
Primeira e única edição, de raro aparecimento no mercado.
Encadernações contemporâneas com a lombada de pele, decoradas com bonitos ferros gravados a ouro. O segundo volume, com defeitos na lombada grosseiramente restaurados.