SOUZA-CARDOSO (Amadeo de).— EXPOSIÇÃO DE PINTURA. amadeo de souza cardoso. Liga Naval Portugueza (ao Calhariz). [S.l.n.d. – 1916?] In-8.º peq. de 8 págs. B.
Raríssimo ‘Catálogo’ da ‘Exposição’ feita por Amadeo de Souza Cardoso na Liga Naval Portuguesa, em Lisboa, cujas obras, em grande parte tinham sido inicialmente expostas no Porto, nas salas do Passos Manuel, com ruidosa recepção.
A propósito desta ‘Exposição de Pintura’ recorda J. Augusto França no livro «Amadeo & Almada»: “(…) Na própria data da inauguração da exposição lisboeta, a 4 de Dezembro, nas salas mundanas da Liga Naval, no Palácio Palmela do Calhariz, a dois passos do Chiado, «O Dia» publicava uma longa entrevista a duas columas com o pintor, certamente por este obtida por vias particulares — e cujo texto em grande parte fornecera. Além de declarações próprias, dando-se como «impressionista, cubista, futurista, abstraccionista, de tudo um pouco» e «não seguindo escola nenhuma», porque, na morte de todas elas, os novos «só procuravam a originalidade», Amadeo fez longas citações do Manifesto dos pintores futuristas de Abril de 1910, encandeando-as sem hiato com outras, do manifesto contra a arte inglesa, de Marinetti e R. W. Nevison, em 1914, publicado num número da revista «Lacerba» e, a seguir, com passagens do próprio Manifesto de Marinetti de 1909, ao qual se sucedem referências ao manifesto do Music-Hall, também de Marinetti, em 1913, e ainda aos manifestos de teatro e de cinematografia, de 1911 e 10. (…).
“Almada (que adoptará mais tarde as suas citações de Rimbaud-Apollinaire), por seu lado, proclamava o amigo «a primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX». (…)”
Quanto à ‘Exposição’ na cidade ‘Invicta’, diz Augusto França: “A verdade é que foi vindo gente nova a defender-lhe a obra nas salas do Passos Manuel e houve discussões, insultos, zaragatas. Alguém lhe cuspiu num quadro, marcando bem, em saliva lusitana, o ódio provinciano a toda a novidade, e, na rua, outro desconhecido interpelou o pintor, perguntando-lhe se fora ele quem fizera «aquilo que estava ali em cima», e, respondido que sim, agredira-o de chofre, com rancor, e safara-se logo, mandando Amadeo para o Hospital da Misericórdia. Um enorme sucesso, escreveu este para a América, informando Walter Pach…
“Os jornais acolheram variadamente o acontecimento, e terá influído nisso conhecimentos na imprensa local: à simpatia prudente do «Jornal de Notícias» e d’«O Primeiro de Janeiro», respondeu a indignação irónica d’«A Luta», a lamentar que «a doença futurista tivesse transposto as fronteiras do nosso lindo Portugal». «A Montanha» ia mais longe, chamando à exposição «ignomínia monstruosa, exibição obscena», no «elegante salão de festas» — e recomendava ao Sr. Comissário da Polícia o internamento do pintor e dum crítico de outro jornal que o elogiara entusiasmadamente. (…).”
Edição impressa a negro e vermelho na primeira página de uma folha com 45×16,5 cm., dobrada em 8 páginas. A primeira com os respectivos dizeres e um texto de Rimbaud. As restantes com o respectivo catálogo que termina com o seguinte anúncio: ŒUVRES / DE / AMADEO DE SOUSA-CARDOSO / dans plusieurs expositions / et galeries / Munich, Paris, Berlin, / Londres, Cologne, Hambourg, / New York, Chicago.