MACEDO (Padre José Agostinho de).— GAMA. Poema narrativo, author José Agostinho de Macedo. Lisboa, na Impressão Regia. 1811. In-8.º peq. de XV-I-266 págs. E.
“ (…) É pois do seu encerro nos cárceres da Graça correndo os últimos mezes de 1789, que cremos datar, senão a primordial concepção, ao menos o primeiro impulso e desenvolvimento dado á composição de um poema, a que José Agostinho pozera inicialmente o titulo — ‘O Descobrimento da India’, — substituído depois este pelo de ‘Gama’, com que afinal sahiu á luz em 1811. (…)
“Muitos annos havia (…) que José Agostinho se dera á composição de um poema épico, com o qual se propunha nada menos que a obscurecer a gloria do ínclito cantor dos ‘Lusiadas’: que suposto em varias partes dos seus escriptos, e com especialidade no prologo do mesmo poema ‘Gama’ elle pretenda negar que jamais lhe passasse pela idéa a intenção de ‘emendar Camões’, forcejando por apoiar sua negativa em palavrosas declamações e sophisticos argumentos, (…)”
“Como quer que fosse, em 7 de Maio de 1811 José Agostinho a despeito do parecer e dictame de varias pessoas, tão entendidas quanto desinteressadas, que consultava (em cujo numero entravam o sábio desembargador ‘Antonio Ribeiro dos Santos’ e o muito erudito ‘Sr. José Maria da Costa e Silva’, com quem ainda mantinha amigáveis relações) deu por completo e acabado no estado em que se achava o seu poema ‘Gama’; e precedido de uma dedicatória mais que lisongeira ao seu Mecenas ‘Ricardo Raymundo Nogueira’, entregou o manuscripto ao livreiro ‘Desiderio Marques Leão’ para que o fizesse imprimir, sob condição de que só se extrahiriam duzentos exemplares, porquanto elle José Agostinho já reservava na mente o plano de o addiccionar e corrigir de novo, para o reimprimir depois; e como esperava que a primeira edição por pouco numerosa teria prompto consumo, pretendia d’ahi mesmo tirar argumento concludente, com que fizesse valer a boa acceitação e conceito que a sua obra merecera do publico, o que muito concorreria para dar futura edição maior credito. Todavia o livreiro, cuja má fé talvez superabundava em muito a de José Agostinho, quiz também especular por sua parte na empreza a que se propunha. Viu que com o producto dos duzentos exemplares vendidos poderia quando muito salvar as despezas da impressão, sem colher para si algum proveito; alem d’isto, como era fanático e enthusiasmado admirador do mérito do padre, persuadiu-se que a obra ia extrahir-se mal fosse annunciada a venda: instigado pois pela avareza e esperança de futuros lucros, com que já contava, fez imprimir furtivamente mil exemplares em vez dos duzentos a que se comprometera com o auctor. — José Agostinho a quem esta velhacaria não podia escapar, tornou-se furioso, e depois de altamente o descompor exigiu que lhe desse quarenta moedas por preço do manuscripto. (…)”. [‘in’ Memórias para a Vida íntima de José Agostinho de Macedo, de Innocêncio Francisco da Silva].
Edição marcada com a chancela do editor que declara não reconhecer por verdadeiro “Exemplar algum desta Obra, sem que elle proprio o marque depois de impresso, com a sua Firma.”
Edição precedida de um ‘Discurso’, seguido de uma ‘Ode Pindarica’ em louvor de Luiz de Camões.
Encadernação inteira de pele, contemporânea, com picos de traça e um restauro na pasta posterior. Com o ex-libris heráldico da «Livraria de J. G. Mazzioti Salema Garção»