LIMA (D. Luís Caetano de)[1671-1757].— GRAMMATICA // FRANCEZA, // OU // ARTE // PARA APRENDER O FRANCEZ // por meyo da Lingua Portugueza, // ‘REGULADA PELAS NOTAS //, e Reflexões da Academia de França’. // […] // POR // D. LUIZ CAETANO DE LIMA, C. R. // [xilogravura com a marca da Congregação do Oratório ornamentada] // LISBOA, M.DCC.LVI. // ====== // Na Officina de JOSEPH DA COSTA COIMBRA. // ‘Com todas as licenças necessarias.’ 2 tomos. In-8.º gr. de XX-271-[I] e VIII-463-[I] págs. E.
“Nesta grammatica Franceza, e Portugueza te offereço, benevolo Leitor, quasi vinte anos de estudo; pois que a pesar de outras occupaçoēs mayores, naõ larguei nunca de todo este trabalho. Huma grande parte deste tempo assisti na Côrte de Pariz, fazendo reflexaõ assim na escolha das palavras, como na verdadeira pronûncia das letras; e a outra parte supposto que vivî em Inglaterra, e em Hollanda, fui fallando quasi sempre Francez, escrevendo Cartas, Memoriaes, e outros papeis na mesma lingua. (…). as Linguas tem humas circunstancias géraes,e transcendentes, que se requerem indispensavelmente em todas as occasioēs, como saõ a pronûncia das letras, a escolha das palavras, a differença entre termos sérios, e jocósos, entre frases Oratorias, e Poeticas, e muitas outras que naõ refiro por brevidade; o que tudo póde concorrer em hum breve discurso. Persuadido destas considerações me resolvi augmentar a minha Grammatica Franceza, accrescentando tanto esta nova ediçaõ, que bem lhe podes chamar Obra muy divertida; porêm ao mesmo tempo que a tenho posto em estado de menos imperfeiçaõ, vejo que algumas pessoas me condemnaõ de diffuso: sem dûvida; porque ignoraõ os mysterios desta Lingua; e se contentaõ com a noticia de certos termos muy vulgares, que ainda acompanhaõ com a barbaridade do seu Accento.
“A maxima infeliz deste genero de reparadores he, que, com tanto que qualquer Francez entenda o seu bom, ou máo discurso, isto he o que basta saber daquella Lingua. A isto respondo, que naõ he para esta sorte de homens, que eu dou á luz a minha Grammatica; mas só para pessoas estudiosas, e polidas, que procuraõ fallar as Linguas com acerto. (…).
“Resta dizer-te, benevolo Leitor, que na Segunda Parte desta Grammatica acharás hum ‘Diccionario’ de palavras puramente Francezas, ou que tem pouca analogîa com outras Linguas, como tambem das suas frazes mais particulares, que a serem traduzidas em Portuguez litteralmente, perderiaõ a mayor parte da sua força. Tambem allî acharás huma ‘Nomenclatura’ de varios termos de Artes, e Sciencias, divididos por classes de materias, com mais ordem, e melhor escolha do que se costuma encontrar em Livros semelhantes.
“Em toda esta Obra procurei seguir os melhores Authores Francezes, que ou imprimiraõ Reflexoēs sobre a sua Lingua, ou escrevêraõ com grande pureza em outras materias, como verás da Lista mais abaixo. Eu os cito fielmente nas occasioēs de alguma dûvida, naõ para fazer pompa de que conheço titulos de Livros, mas porque verdadeiramente naõ pertence a hum Estrangeiro questoēs em huma Lingua, em que naõ foi criado.
“Finalmente se por alguma razaõ que naõ penetro, naõ chegar esta Grammatica a ser do teu agrado, conclûo com te pedir perdaõ de querer que aprendesses hum Francêz puro, e elegante, em lugar de fallares Gascaõ, Normando, ou Baixo Bretaõ, em que naõ experimentarias tanto trabalho.”
D. Luís Caetano de Lima, “(…) Acompanhou, em 1695, a Paris, o 2.º marquês de Cascais, D. Luís Álvares de Castro, como seu confessor, e, em 1713, o conde de Tarouca, D. João Gomes da Silva, que negociou as pazes de Utrecht. Na sua longa permanência em França e na Holanda, aperfeiçoou-se no conhecimento das línguas francesa e italiana, de que publicou manuais para estudantes portugueses. Distinguiu-se nas Ciências eclesiásticas, na História e nas línguas grega, latina e hebraica. Foi um dos 50 sócios fundadores da Real Academia de História Portuguesa, instituída em 1720.” [’in’ G. E. P. B.]
Edição ornamentada com letras capitais historiadas, cabeções de enfeite e florões de remate, tudo em boas gravuras esculpidas em madeira.
Encadernação em pele, da época, bastante cansada. Um pouco desconjuntado e com ocasionais vestígios de bicho.