ALVARES (Manuel) [1730-1777, C. O.].— INSTRUCÇAÕ // SOBRE // A LOGICA, // OU // DIALOGOS // SOBRE // A FILOSOFIA RACIONAL: // ‘ESCRITOS’ // POR // MANOEL ALVARES // ‘Da Congregaçaõ do Oratorio do Porto; // QUE OS DEDICA’ // AO SERENISSIMO SENHOR // D. GASPAR, // ‘Arcebispo Primáz das Hespanhas, Senhor // de Braga &c. &c. &c.’ // ✠ // PORTO: // Na Officina de Francisco Mendes Lima, // Anno de 1760. // ‘Com todas as licenças necessarias. //E Privilegio Real. In-8.º peq. de XVI-320 págs. E.
Oratoriano e professor de Filosofia na cidade do Porto, Manuel Álvares foi autor de duas obras relevantes para o nosso período das Luzes: as Instruções sobre a Lógica ou diálogos sobre a filosofia racional (1760), e a História da Criação do mundo conforme as ideias de Moizes e dos Filósofos (1762).
Innocêncio dá notícia de duas edições publicadas respectivamente em 1760 e 1768. Refere ainda este bibliógrafo a ‘Gazeta Litterária’, como fonte a consultar.
Ao alto da respectiva ‘Dedicatória’ com um brazão de D. Gaspar de Bragança [1716-1789], filho ilegítimo de D. João V, nascido de uma relação que manteve com uma religiosa, de seu nome Madalena Máxima da Silva de Miranda Henriques, sendo o segundo dos chamados meninos de Palhavã.
Em 1758, o infante Dom Gaspar foi designado arcebispo primaz de Braga, sucedendo assim ao seu tio consanguíneo D. José Carlos de Bragança, ele mesmo um filho bastardo do Rei D. Pedro II de Portugal e de Francisca Clara da Silva.
A raridade desta edição é por nós confirmada após a consulta feita no Catálogo PORBASE, onde detectamos a existência de apenas um exemplar da edição original conservado na Biblioteca Nacional, proveniente da Livraria de S. Francisco de Xabregas [Mosteiro da Madre de Deus]. Na Biblioteca João Paulo II da Universidade Católica Portuguesa consta também outro exemplar da mesma edição dada à imprensa no Porto, na oficina de Francisco Mendes Lima.
Manoel Alvares apresenta esta obra declarando: “A Necessidade, que todos tem de aperfeiçoar o seu entendimento, he o motivo principal, que me impellio a publicar este pequeno volume. A sua materia he a Logica, cujo emprego saõ as nossas mesmas ‘idéas’, os nossos ‘juizos’, e ‘discursos; o methodo’, que devemos seguir, quando aprendemos qualquer ciencia; e em fim a direcçaõ das operações da nossa mente he o constitutivo desta Logica.
Inocêncio, acerca do autor diz o seguinte: "Presbytero da Congregação do Oratorio do Porto, da qual parece sahira ao fim de alguns annos. Assim o indica o facto de haver juntado ao seu nome o segundo appelido «Queiroz», de que como congregado não podia fazer uso em vista dos estatutos respectivos. Ignoro ainda a sua naturalidade, nascimento, obito, etc."
Primeira e raríssima edição desta obra setecentista fortemente influenciada pelo pensamento filosófico do John Locke e da sua revolucionária obra «An Essay concerning humane understanding», publicada em Londres em 1690. A obra que aqui apresentamos é assim uma explicação anti-escolástica sobre os sentidos, as actividades do espírito, as origens das ideias, etc.
Segundo Joaquim de Carvalho, na sua ‘Introdução ao ensaio filosófico sobre o entendimento humano de John Locke’, “os problemas ontológicos da Escolástica deixavam de ter fundamento e razão de ser e grande parte dos temas da Lógica tradicional também perdiam interesse”; Manoel Alvares apresenta esta obra declarando que “o instituto da Lógica escolástica” (…), “que ocupava as aulas nos séculos passados e ainda hoje tem entrada em muitas escolas do nosso reino”, (…) “são entes de razão, primeiras e segundas intenções, conceitos objetivos, proemiais, universais, sinais e outros tratados deste género próprios para perturbar a nossa mente e diminuir o nosso engenho”. Por isso, se propunha expor “a mesma Lógica, que no passado e presente século seguiram homens de grande merecimento na República Literária; a mesma com que fizeram agigantados progressos Francis Bacon, René Descartes, Pierre Gassendi, John Locke, o autor da Arte de Pensar, Marioto, António Genuense, e infinitos outros, que desterraram das Escolas as monstruosas quimeras dos Antigos e admitiram em seu lugar um novo corpo de doutrina, próprio para guiar o nosso entendimento pelo caminho da verdade».
Encadernação da época, inteira de carneira, com vestígios de bicho na lombada. Com um pequeno rasgão junto à lombada, na folha de frontispício.