CUNHA (Vicente Pedro Nolasco da).— ‘JEREMIADAS’ // OU // PRANTOS // PELOS REVEZES DE LYSIA. // [travessão decorativo] // POEMA ELEGIACO EM CANTOS IV. // COMPOSTO, E OFFERECIDO // ‘A SUA MAGESTADE FIDELISSIMA // A RAINHA’ // DONA MARIA II. // (…) // LISBOA: 1834. NA TYP. DE JOSÉ BAPTISTA MORANDO. // ‘Com Licença.’ In-4.º de 48 págs. Desenc.
Opúsculo com interesse para a bibliografia relativa aos sucessos da Convenção de ‘Evora-Monte’ que determinou o regresso da Rainha D. Maria II à coroa e o exílio de D. Miguel.
“offereço, dedico, e consagro a VOSSA MAGESTADE as presentes linhas, que recordando a historia de nossos males, fação ver em todo tempo, que os desastres procedidos da Ignorancia, só podem reparar-se pela cultura efficaz do saber, que tem por base o amor da Verdade. (…)”
Sobre o autor, natural das Caldas da Rainha e parente de José Anastácio da Cunha, registou Inocêncio no ‘Dicionário Bibliográfico’ algumas memórias a propósito da sua acidentada vida; “(…) Homem bem apessoado, de aspecto agradavel, e de estatura agigantada, provocando com isso os sarcasmos de José Agostinho, que em algumas de suas satyras manuscriptas o apodava com a alcunha de ‘gigante de breu.’ A ser certo o que ha muitos annos me contaram a seu respeito pessoas que o conheciam de longa data, era no tempo da invasão franceza presidente ou ‘Veneravel’ de uma das lojas moçonicas então existentes em Lisboa, na qual por occasião da solemnidade e banquete da Ordem em 24 de Junho de 1808 se brindou á saude do Principe regente, e da casa de Bragança, esbulhada a esse tempo do throno, e de todos os direitos á soberania, pelo decreto de Napoleão (…). Esta demonstração patriotica, apezar do segredo que devia acompanhal-a, transpirou de sorte que foi ter aos ouvidos do general francez [Junot]; este mostrou-se muito irritado, e Vicente Pedro receioso das consequencias, tractou de prevenil-as, emigrando promptamente para Inglaterra. Associando-se em Londres ao seu collega dr. Bernardo José de Abrantes e Castro, foi collaborador na empreza do ‘Investigador Portuguez, (…).” Regressado à Pátria, viveu “os ultimos annos em Lisboa, senão em inteira miséria, ao menos em circunstancias bem desfavoraveis, apezar da resignação com que paciente as supportava, vendo-se por vezes dependente para subsitir das liberalidades de alguns velhos amigos, e do mesquinho producto das subscripções que outros lhe propocionavam para a impressão dos seus opusculos… (…)”.