ROMEU JÚNIOR (Soares).— AS LETTRAS NO BRAZIL. Duas Palavras A’ Cerca de um folheto do Snr. A, do Quental. Braga: Typ. de Domingos G. Gouvea, ‘Rua Nova n.º 42.’ — 1866. In-8.º de 10-[II] págs. B.
Opúsculo bastante invulgar, dado à imprensa a propósito da leitura das então recém publicadas ‘Odes Modernas’ de Antero de Quental: “Em uma noite que fui visitar uns amigos meus, encontrei-os a ler as ‘Odes modernas’ do Snr. Anthero de Quental, obra, segundo me disseram, sahida por aquella occasião ha pouco dos prelos. Apaixonado como sou das bellas lettras e da gloria litteraria do meu paiz, folgando todas as vezes que apparece um livro a enriquecer a litteratura patria, approximei-me, como era de crêr, para melhor ouvir a leitura que começou de novo; fineza que os meus amigos quizeram ter para commigo.
Infelizmente para mim, todo esse trabalho foi debalde, porque ao cabo da leitura fiquei a olhar para o livro, sem o poder comprehender; fiquei como vulgarmente se diz, a ver navios. Tal era a grandeza do assumpto e o seu empinado estylo. […]”.
Continua o autor com a sua mordaz crítica ao revolucionário poeta, argumentando em defesa de Castilho, Pinheiro Chagas, Mendes Leal e Camilo. “”[Não venho defender o Snr. Castilho, não precisa S. Ex.ª da minha defeza […] a aguia já vai muito alta, e tão alta, que bem pode dizer que tem a posteridade por sua como a já tem Garrett, como a ha de ter Herculano. O que desejava era saber do Snr. Anthero (a quem eu não posso deixar de reconhecer talento) que conceito lhe merece o Brazil, para dizer que o Snr. Castilho é ‘genio n’aquelle imperio, e que as suas obras só agradam aos leitores, que S. Exc.ª alli tem, turba de gente que nunca leu nem pensou’.
“Julga S. S.ª que o Brazil é algum paiz atrazado em civilização, ou habitado unicamente por gente boçal? […]. O autor continua em defesa da literatura brasileira: “A litteratura brazileira abrilhanta-se hoje com crescido numero de escriptores distinctos, tanto em prosa, como em verso, dos quais citaremos alguns nomes. (…)”
Opúsculo com interesse para a bibliografia relativa à célebre polémica coimbrã ‘Questão do Bom Senso e Bom Gosto’.