A. (J. de).— MANIFESTO //IMPARCIAL E EXACTO // DOS // ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES // QUE HOUVE // EM // ARANJUEZ, MADRID E BAYONA, // Desde 17 de Março até 15 de Maio de 1808 sobre // a quéda do Principe da Paz, e sobre o fim da ami- // zade, e alliança dos Francezes com os Hespanhoes: // ESCRITO EM MADRID. // ‘Esta Obra deve servir de Supplemento á Exposição // de D. Pedro de Cevallos.’ // TRADUCÇÃO DE HESPANHOL. // [brasão de armas de Portugal] // LISBOA, NA IMPRESSÃO REGIA. Anno 1808. // ‘Com licença’.// —— // ‘Vende-se na Loja Xavier de Carvalho, junto á Igreja dos Martyres. In-8.º de 44 págs. Desenc.
“DO AUTHOR AO PUBLICO. A Rapidez, que se notará em alguma parte desta relação, e o consequente desatavio do estilo pedem indulgencia, porque escrevi este papel entre ameaças e riscos; e os dous mezes, que abraça a minha Historia, encerrão o valor de hum seculo em cousas extraordinarias, que exigião tempo, e descanço para representallas bem. Mas decretou-se huma Commissão Militar-Imperial e Real [* Tudo he imperial e real em Napoleão. Sua perfidia, suas usurpações, e seus assassinios são imperiaes e reaes.] para perseguir os criminosos de lesa-perfidia-napoleonica, que, como eu, escrevem a verdade, e dizem mal de S. M. I. e R.: já não pude escrever com socego, e sómente tratei de concluir de qualquer modo, para esconder meu papel. Varias vezes quiz rasgallo, porque me parecia passo mui desabrido ser arcabuzado sem utilidade da Patria. ¡ Cousa cruel e horrivel ! ver-se sentenceado à morte pela faculdade de pensar! ¿ (…) Pude finalmente escapar de Madrid com o meu borrão dentro das botas; (…)”.
“A Europa esperava os resultados da desfigurada scena do Escorial. Os bons Hespanhoes gemião murmurando, sem atrever-se a atacar a justiça. O accusador Godoy, tão ambicioso como dissoluto, delirava com a coroa, que havia de cingir sua cabeça em hum canto de Portugal. Carlos caçava, e vegetava. Maria Luiza afiava o cutelo, que havia de degolar os Duques d’Infantado, e de S. Carlos, e Escoizquiz. Fernando esperava seu desaggravo, casando-se com huma Princeza da dynastia mais moderna, e mais intrusa do Universo. Napoleão occupava e saqueava Portugal por amigo dos Inglezes: desenthronizava o Rei d’Etruria, suppondo ajustes com seu avô: fazia marchar suas tropas sobre Hespanha: volta de Italia a París, e annuncía huma visita amigavel a seu ‘íntimo amigo e alliado.’ Tal era o estado das cousas nos mezes de Novembro e Dezembro de 1807. (…)”.