MIRANDA (Francisco de Sá de) [1487-1558].— OBRAS // DO DOCTOR // FRANCISCO DE SÁ // DE MIRANDA. // ‘NOVA EDIÇÃO CORRECTA, EMENDADA, // E augmentada com as suas Comedias’. // […] // [vinheta com o monograma do impressor] // LISBOA, // NA TYPOGRAFIA ROLLANDIANA. // 1784. // ‘Com Licença da Real Meza Censoria.’ 2 vols. In-8.º de XXXII-290-VI e 293-III págs. E.
Pormenorizada descrição no nº 2934 do Catálogo de Azevedo Samodães, que conclui: "A edição Rollandiana que fica descrita, de impressão muito nitida, goza de excelente conceito e estima não só por ser considerada bastante correcta, como tambem por incluir, pela primeira [e única] vez, as duas Comédias de Sá de Miranda. Os exemplares não são já presentemente vulgares no mercado", podendo hoje, decorridos mais de oitenta anos da publicação deste catálogo, considerar-se raros.
Junto à folha de frontispício do primeiro volume, o exemplar que descrevemos apresenta um belo e muito raro retrato do ‘poeta’ [que não faz parte da edição] intitulado, ‘Verdadeiro retrato de Francisco de Saa de Miranda’, cuidadosamente descrito e estudado no «Dicionário de Iconografia Portuguesa» de Ernesto Soares e H. de C. Ferreira Lima: “O seu retrato gravado, se bem que nada possa autorizar a declará-lo pertencer ao número das ‘effigies ad vivum’, deve, sem fantasia considerar-se como saído de um desenho reprodução de quadro existente ao tempo do poeta ou pintado por pessoa a quem foram fornecidos verdadeiros traços fisionómicos. Cremos não ir muito longe julgando que o autor da prosografia (…), impressa no Prefácio das ‘Obras de 1595’, fosse ele D. Gonçalo Coutinho ou qualquer outro, tivesse conhecido ou tido à mão retrato autêntico, pintado ou desenhado. As duas estampas ou antes os dois exemplares conhecidos da mesma gravura, aberta a fino buril e que por uma circunstância inexplicável se encontram coladas em duas obras do poeta ‘Obras’, de 1614, e ‘Comedias’, de 1622, existentes na B. N. L. Reservados, são, indiscutìvelmente, tradução de uma figura humana, real, com todas as probabilidades de ter sido tirada de um modelo vivo. A própria feição do psicológica, característica essencial no retrato, se atentarmos na expressão melancólica do olhar e na gravidade do porte, acima indicadas na prosografia, ressalta bem clara através das formas externas, quase hieráticas, de barbas encanecidas, cuidadas e patriarcais, olhar profundo e posição majestática. (…). Não podemos admitir que uma gravura com 127 x 67 mm. fosse mandada abrir para ilustração de uma obra cuja mancha tipográfica tem 170×100 mm. Retratos ou portadas maiores do que a mancha de composição aparecem com frequência, mas com esta desproporção de tamanhos nenhum nos ocorre de momento. Nestas condições pode afirmar-se que os dois exemplares conhecidos de uma mesma chapa, ambos do mesmo estado, apesar da pequena diferença nas legendas explicativas, tiveram fim muito diferente do que lhe conhecemos. (…). Mas quem teria sido o artista que abriu esta mimosa chapa? Num trabalho de generalidade como este não é muito próprio descer a pormenores que pertencem a monografias, mas Sá de Miranda merece bem que nos ocupemos do seu retrato como peça raríssima e curiosa. O traço cuidado, mais parecendo de agulha do que de buril, as feições acentuadas de uma realidade flagrante, fazem-nos lembrar as primorosas chapas das séries régias portuguesas dos ‘Elogios dos Reis’, de 1603, (…). Nos dois exemplares da B. N. L. a que nos referimos as legendas inferiores rezam: ‘Verdadeiro retrato do D. Francisco de Saa de Miranda’ que se encontra nas ‘Obras do Doctor… Anno de 1614’, exemplar que pertence à Livraria de D. Francisco Manuel e ‘Verdadeiro retrato de… Francisco de Saa de Miranda’, das ‘Comedias.., 1622.’”
Encadernações contemporâneas de pele, com ferros a ouro nas lombadas. Com manchas de água nas folhas de guarda que afectam, embora ligeiramente a folha de frontispício do segundo volume. Ambos os volumes com assinaturas antigas; no 1.º volume na folha de anterrosto e no segundo no verso da folha de frontispício.