SANTISSIMO CORAÇÃO DE MARIA (D. Francisco do).— ORAÇÃO GRATULATORIA, // RECITADA // EM A IGREJA PAROCHIAL DE S. JOÃO DE ALMEDINA // A 11 DE MAIO DO PRESENTE ANNO // NA SOLENNE ACÇÃO DE GRAÇAS, // QUE // OS LEAES CONIMBRICENCES REALISTAS // ENDEREÇÁRÃO AO TODO PODEROSO // PELO FELIZ REGRESSO A ESTE REINO, // E ACCLAMAÇÃO // DE // SUA MAGESTADE // O SENHOR // D. MIGUEL I. // O DESEJADO, // FEITA NESTA CIDADE NO DIA 25 D’ABRIL PRETERITO // PELOS ESFORÇOS // NOBRES ACADEMICOS REALISTAS, // (…) // [brazão de armas de Portugal] // COIMBRA, // NA REAL IMPRENSA DA UNIVERSIDADE. // 1828. // [travessão de enfeite] // +Com Licença da Real Commissão de Censura.’ In-8.º de 23-I págs. B.
Opúsculo miguelista e anti-maçónico bastante raro, cuja oração viria a determinar a fuga do autor, ”acompanhando o arcebispo D. Fr. Fortunato de S. Boaventura para Roma, onde viveu alguns annos”.
Justifica D. Francisco do Sanctissimo Coração de Maria no texto dirigido aos seus leitores que “Este Discurso, que produzio tanta sensação em todos os assistentes, não tem bellezas, porém contém verdades dolorosas, das quaes todos temos sido testemunhas; (…). Ha mais tempo que elle deveria ter saído a público; mas os tristes acontecimentos, que tiverão lugar nesta Cidade no dia 22 de Maio, obrigando-me a uma fuga precipitada, a fim d’evitar a morte, a que me tinha destinado o odio Maçonico [Por ter sempre defendido a Causa da Religião e do Throno; porém muito particularmente por este Discurso, e pelo que recitei no dia 25 d’Abril, o qual a tal Junta espoliadora do Porto mandou queimar na Real Imprensa da Universidade, mas que brevemente vai ser reimpresso.], demorou até agora a sua impressão, e me estorvou de fazer algumas correcções, de que necessita; como porém não ambiciono os louros concedidos aos grandes Oradores, mas só desejo ser util á Religião e á Patria, desenganando os póvos sobre os seus verdadeiros interesses, e sobre os diabólicos fins da Maçonaria, por isso consento, que sem mais demora visse a luz publica (…).”
Recorda Inocêncio que D. Francisco do Sanctissimo Coração de Maria Cardoso e Castro de Magalhães, “(…) Conego regrante de Santo Agostinho, cuja murça vestiu no mosteiro de Sancta Cruz de Coimbra pelos annos de 1821; Mestre de Theologia no collegio da Sapiencia da mesma cidade, Prégador honorario da Real Capella da Bemposta, etc. — Foi natural da cidade do Porto, e n. a 30 de Janeiro de 1799. (…). Tendo cursado as aulas da Faculdade de Theologia na Universidade nos annos de 1827 e seguintes, não chegou a formar-se, em razão das perturbações politicas que sobrevieram, nem pôde pela mesma causa tomar posse do priorado do convento da Serra no Porto, para que fora nomeado pelo seu Geral. Como em todo o periodo de 1828 a 1834 se mostrasse zeloso propugnador da causa de D. Miguel, teve de emigrar no fim da lucta civil, acompanhando o arcebispo D. Fr. Fortunato de S. Boaventura para Roma, onde viveu alguns annos. Pelo de 1844 passou de lá para o Brasil, desembarcando em Pernambuco. Ahi foi bem acolhido pelo Bispo, que era da sua ordem, e lhe deu alojamento no paço episcopal, provendo-o em uma cadeira de theologia no respectivo seminario. Começando a ganhar fama no exercicio da predica, suscitou contra si a emulação de outro padre portuguez, e tambem emigrado, que por intrigas conseguiu que D. Francisco deixasse Pernambuco, determinado a regressar á patria. Appareceu com effeito em Coimbra, porém os inimigos politicos, cujo odio concitara n’outro tempo, não lhe consentiam viver socegado; e para fugir ás suas perseguições decidiu retirar-se para Lisboa. O ministro brasileiro Drumond, que então funccionava n’esta côrte, o contractou para ir professar um cursou de theologia em um convento de benedictinos no Rio de Janeiro, e seguindo viagem a 10 de Outubro de 1846, aportou á capital do Brasil em 28 de Novembro seguinte. (…)”.
Com uma mancha de água na margem das primeiras folhas, o opúsculo conserva a capa de ‘papel de fantasia’ da época.