TOSCANO (Francisco Soares).— PARALLELOS // DE PRINCIPES, E VA- // RÕES ILLVSTRES ANTIGOS, A QVE // MVITOS DA NOSSA NAC,AM PORTVGVESA // se assemelhàrão em suas obras, ditos, & feitos: Com a origem // das armas de algũas familias deste reino. // ☙ ‘POR FRANCISCO SOARES TOSCANO NA ❧ // tural da cidade de Evora.’ // Ao Excelentissimo senhor D. Theodosio, segũdo de nome, Duque dos estados // de Bragança, & Barcellos Marquez de Villa viçosa, Cõde de Ourẽ, Arrayolos, // Neiva, & Penafiel Senhor de Mõtalegre, Monforte, & Villa do Conde, Cõde- //stable de Portugal, & o primeiro, & mais antigo Duq̃ de toda Espanha, // & Italia dos que agora conservaõ sua dignidade, & estado. // [Gravura com o Escudo d’Armas de D. Teodósio II] //Com as licenças necessarias. Em Evora por Manoel Carvalho. 1623. In-8.º de XVIII-180 ff. E.
Interessante e muito estimado clássico português, pela primeira vez dado à imprensa em 1623, dois anos após a subida ao trono de Filipe III, dedicada a D. Teodósio II, por morte do ‘Cardeal-Rei‘ D. Henrique, aspirante ao trono de Portugal. Com interesse para a história da identidade e afirmação lusitana no contexto Ibérico e a afirmação da ‘Casa de Bragança’ neste conturbado período da história.
Do «PROLOGO»: “Desejos de satisfazer (se nisto cabe satisfação) a animos naturalmente afeiçoados â honra Portuguesa, que levados do amor da patria com instancia me pedirão tirasse a luz estes ‘Parallelos’, me obrigão agora cortar por mim, avênturandome ser murmurado, & calumniado de linguas mal dizentes, & invejosas, chagas incuraveis, & sem remedio, que o melhor que tem he fazer da necessidade virtude: apegar â paciẽcia anchora firme de todas as miserias humanas, & vaivem que desbarata facilmente os muros de qualquer aspreza. […]. Foi meu intento mostrar quaõ pouco diversos, & polidos reinos do universo, & monarchias mais dilatadas se podião gloriar de quaesquer virtudes de seus filhos, & naturaes, q̃ sô este reino de Portugal em taõ poucos annos de Reino, naõ pusesse com môr ventagem o risco mais alto, & o Plus ultra de honrados feitos. Rezaõ urgentissima (quando naõ ouvera muitas) pera eu procurar sair com esta curiosidade, furtando corpo ao natural receo, que a nossa naçaõ tem, mais inclinada, & solicita a comquistar, & pisar indomitas, & bellicosas nações, que em gastar o tempo na composiçaõ, & impressaõ de suas obras, bem dessemelhantes daquelle insigne Emperador Iulio Cesar, hum dos nove da fama, que se de dia tinha a lança na mão, tinha de noite a pena com que escrevia seus feitos: mas como os Portugueses tem as mãos, & as outras nações a lingua, & pena, tem disculpa dus falta. […] Donde vẽ acanharẽse os homẽs (particularmẽte Portugueses) a sairẽ cõ suas obras, por não se avẽturarẽ a detracções de gẽte pouco agradecida, q̃ não serve de mais, q̃ de julgar trabalhos alheos, não sẽdo elles pera nada, […]. â liçaõ do meu ‘Theatro Lusitano’, quando sair a luz, onde (com o favor de Deos) espero fazer hũ bom serviço â nobreza deste reino, apurando, & ordenandolhe por exẽplos as cousas mais notaveis delle, em forma, que escusem buscallas noutras historias, nem tenhão env, a [em ver?] âs dos outros Reinos de Europa.”.
Barbosa Machado na ‘Biblioteca Lusitana’ regista o nome do autor, natural de Évora, cidade “ (…) onde se applicou às letras humanas, e Filosofia, em que sahio egregiamente versado, naõ o sendo menos em a lição da Historia Sagrada, e Profana como manifesta a obra seguinte, que escreveo com applauso dos Heroes, que produzio o nosso Reyno. (…).” Refere-se Machado à Obra ‘Parallelos de Principes e Varoens illustres…’ que agora apresentamos.
José dos Santos no ‘Catálogo do Conde do Ameal’ considera esta primeira edição, de esmerada execução tipográfica, interessante, muito estimada e rara. Raridade confirmada por Ricardo Pinto de Matos no ‘Manual Bibliographico Portuguez’, ou por José dos Santos no ‘Catálogo da Livraria de Luiz Monteverde da Cunha Lobo’.
Confrontados com a notícia dada por Inocêncio no «Dicionário Bibliográfico Português” [T. IX, págs. 379] a propósito da possibilidade de existir uma contrafacção da edição ‘princeps’ dos ‘Paralelos de Principes’, procuramos esclarecer esta dúvida até nos ter sido possível comparar dois distintos exemplares que revelam não só “alguma diferença na taboa das erratas, e em algumas vinhetas”, mas também diferente composição tipográfica. A confirmar que se trata não de uma contrafacção, mas sim de nova edição, o exemplar que agora descrevemos revela no final das respectivas «LICENC,AS» que esta edição foi taxada em 200 reis em papel. Lisboa. 13. de Mayo de 623. No exemplar que serviu para análise, na mesma folha, a respectiva Taxa é de 160 reis em papel. Lisboa. 18. de Março de 623. Acresce a esta informação que as taxas aplicadas, vem assinadas por distintos amanuenses.
Frontispício adornado com o Brazão de Armas de D. Teodósio II [calcogravura], seguido das respectivas «LICENC,AS»; de ff. prels. inums. III a VIII, dedicatória «AO EXCELLENTIS’MO SENHOR DOM THEODOSIO SEGVUNDO DO NOME, E SETIMO EM ordem Duque de Bragança, & o primeiro, & mais antigo Dugue de toda Espanha, & italia dos que agora conservão sua dignidade, & estado, &c.», assinada pelo autor; de IX a XI, «PROLOGO AO AGRADECIDO LEITOR.»; na frente de ff. XII, com dois ‘Epigramas’ em latim intitulados «IN LAVDEM AVTORIS»; no verso com o «INDICE DOS TITVLOS DESTA OBRA»; de ff. XIII a XVIII, um «INDICE DOS VAROENS ILLVSTRES E COVSAS NOTAVEIS.»; no verso da ff. XVIII: «ERRATA». O texto propriamente dito decorrre de Fol. 1 a 180, no final com «PARALLELOS DE MVLHERES ILLVSTRES, A QVE ALGVAS PORTVGVESAS SE Assemelharão em seus feitos, ditos, & obras».
Manuel de Carvalho, filho de Nicolau de Carvalho (impressor em Coimbra), “desenvolveu uma extraordinária actividade nas artes gráficas depois de ter feito a sua aprendizagem na oficina paterna, abriu oficina em Évora, onde imprimiu de 1623 a 1637 (…) [’in’ Gil do Monte. Subsídios para a História da Tipografia em Évora nos Séculos XVI a XVIII].
Informação que nos leva a concluir que esta edição é uma das primeiras que Manuel de Carvalho imprimiu em Évora sob a sua responsabilidade. Um ano mais tarde, já como impressor da Universidade de Évora, viria a imprimir os «Discursos Varios Politicos» de Manuel Severim de Faria.
Encadernação antiga, inteira de pele, decorada com bonitos ferros fundidos a ouro na lombada; na pasta posterior com vestígios de traça, superficiais. Com um pequeno corte de traça nas nove últimas ff. preliminares que não ofendem a mancha tipográfica.