PLANO // PARA DAR SYSTEMA REGULAR // AO MODERNO // ESPIRITO FILOSOFICO, // OU // INSTRUÇÕES // ANECDOTAS // DE // HUM LIVRE PENSADOR. // Traduçaõ do Italiano. // [pequena gravura tipográfica[ // Na Offic. de Antonio Rodrigues Galhardo, // Impressor da Real Mesa Censoria. // ——— // ANNO 1784. // ‘Com licença da mesma Real Mesa.’ In-8º de II-XXIX-[I[-313-[I] págs. E.
Tradução publicada sob anonimato, quer do autor, quer do seu tradutor. Conforme apuramos na PORBASE, a obra deve-se ao veneziano Pietro Marco Zaguri [1738-1810], nesta edição traduzida para o português por D. Francisco Gomes de Avellar.
Diz Inocêncio que o tradutor, “Presbytero secular, da Congregação do Oratorio de Lisboa, e depois bispo do Algarve (…). Exerceu o ministerio episcopal por mais de vinte e seis annos, deixando na sua diocese mui saudosas recordações. (…) A sua biographia e retrato sahiram no ‘Panorama’ n.º 34, de 20 de Agosto de 1842 (…).”
Obra dividida em sete reflexões, a saber: I.Distribuição dos Officios; II. Exame dos Manuscritos; III. Correcção dos Livros; IV. Catecismo Anti-Christão; V. Avisos geraes áquelles, que se aplicarem a dar á luz alguma Obra Filosofica a favor do Partido; VI. Apostasia Filosofica; VII. Colonia Filosofica.
A título de ilustração, transcrevemos o início da VII e última reflexão: “Entre as outra providencias encaminhadas a promover o augmento do nosso Espirito Filosofico, eu estou vendo com gosto o grande projecto de formar huma Colonia de mollheres e de homens iniciados nos principios das nossas maximas sublimes, e mandalos para o outro hemisferio a morar em huma Ilha encuberta, em hum lugar retirado do trato e comercio com os Europêos. Tenho para mim, que este seria o atalho mais breve, e o mais facil para se chegar a conseguir o grande fim, a que se dirigem os nossos projectos; a saber, que o moderno Espirito Filosofico se faça senhor de todo o Universo: com tanto que se atendesse ás seguintes reflexões sobre a escolha do lugar para morarem, sobre as pessoas que para lá deverião ir, e sobre o modo de as educar com o verdadeiro espirito do Partido. Quanto ao lugar, deveria esta metropole da Irreligião erigirse lá bem longe do continente antigo; porque a distancia traz comsigo a utilidade de poder ter melhor salvo-conducto a alteraçaõ das coisas que se contarem: e não se podendo facilmente confrontar o facto com a relaçaõ delle, mais facilmente se pode dar sahida ao verosimil por verdadeiro, e ao falso por verosimil. Seria muito util, que este venturoso canto da Terra gozasse de hum clima, onde a atmosféra naõ influisse no temperamento dos Habitadores para levalos aos prejuizos, ou ao fanatismo, nem fomentasse as paixões do odio, e do amor que naõ se encaminha á conservaçaõ e felicidade dos individuos. E ultimamente que naõ tivesse sido habitado antes por outra gente, que ahi tivesse deixado alguns vestigios dos prejuizos da credulidade, ou da superstição. (…)”.
Encadernação inteira de carneira, da época, com falta do respectivo rótulo, com nervuras e ferros gravados a ouro na lombada. Sem prejuízo da mancha tipográfica, o exemplar apresenta um corte de traça no final do volume.