BANDARRA (Gonçalo Anes de).— ‘Por Deos do Altisimo / Porfeçias de Gonçalo Anes / Bandarra da Vila de / Trancozo achadas na capela / Mor De S. Pedro no Des / fazer della em seis de Agosto / do Anno de 1729 e feitas no Anno / de 1528 – escritas pello Illmo. / Senhor Padre Graviel Rigen / Rigente do mesmo Mosteiro em / Letra Redonda / com Poderes / De Deos A [?] / o Nosso Senhor Jezus / Christo’. [Dim. 15,5 x 21 cm.] 28 págs. B.
Cópia manuscrita das ‘Profecias de Bandarra’ cremos que datável do século XIX.
Gonçalo Anes de Bandarra, também conhecido pelo ‘sapateiro de Trancoso’, bom conhecedor do Antigo Testamento, redigiu uma série de trovas messiânicas que falavam do futuro de Portugal no Mundo e da vinda do ‘Encoberto’. Acusado pela Inquisição, de que as ‘trovas’ tinham as marcas do judaísmo, Bandarra foi condenado a participar no auto-de-fé de 1541. Quanto às suas ‘Trovas’, foram incluídas no ‘index’ dos livros proibidos, quer pelo interesse despertado entre os cristãos-novos, quer por conta do sucesso das mesmas após a derrota de ‘Alcacer-Quibir’ e o desaparecimento de D. Sebastião.
Apesar da interdição do Santo Ofício começaram então a circular diversas cópias manuscritas, tendo sido impressas as ‘Profecias’ pela primeira vez em Paris, em 1603 e com o título «Paráfrase e Concordância de Algumas Profecias de Bandarra», em edição publicada e comentada pelo ‘Sebastianista’ D. João de Castro.
Em 1644 na cidade de Lion, apareceu nova impressão patrocinada pelos apoiantes de D. João IV em defesa do ‘Encoberto’ o que levou a nova proibição por parte da Inquisição. Já no Século XVIII foram supostamente descobertos novos corpos das ‘Trovas’ em Trancoso, o que levou a Real Mesa Censória a novas proibições, desta vez acusando os jesuítas. Apesar de todas as proibições continuaram a circular cópias, isto é, supostas cópias que hoje revelam textos que reflectem as aspirações do seu tempo e dos seu intérpretes. Uma vez mais e a propósito das invasões francesas ou das suas consequências surgem novas adaptações manuscritas ao texto das ‘profecias’, em paralelo com edições impressas em 1810, 1815, 1822, 1823 e 1825. Posteriormente estes textos vieram ainda a inspirar, entre outros, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.