ARANTES (Francisco José de).— REFUTAÇÃO // DA // VOZ DA RAZÃO // DO DOUTOR // JOSÉ ANASTASIO DA CUNHA, // Lente de Mathematicas da Universidade // de Coimbra: // OU // ‘VERDADEIRA VOZ DA RAZÃO,’ // por // (…) // [brasão com as armas de Portugal] // COIMBRA, // NA REAL IMPRENSA DA UNIVERSIDADE. // 1824. // ‘Com Licença da Real Commissão de Censura. In-8.º peq. de 79-I págs. E.
“Não se póde, sem manifesta injustiça, negar o merecimento literario do Doutor ‘José Anastasio da Cunha’: Portugal, a Europa, e todo o mundo lhe tem feito justiça, collocando-o distinctamente entre os Sabios Mathematicos Portuguezes; e entre os homens de profundo saber, raro ingenho e talentos singulares: e ao mesmo tempo tem lamentado, e ainda hoje lamenta, de que nem sempre usasse delles bem e rectamente: seus escritos fallão de sobejo. Se n’uns, como Filosofo, segue com passo seguro a marcha dos astros; conhece e combina as Leis da Natureza; e penetra seus segredos: n’outros, como Filosofo impio, emprega todo o seu saber, todo o seu ingenho e talentos para destruir as verdades mais essenciaes da Religião, dar lições de incredulidade levada até o delírio, e da irreligião requintada em fanatismo: e sustentar, ou para melhor dizer, levantar o mais bem acabado edificio da impiedade, qual he a sua ‘Voz da Razão’, que emprehendo refutar.
“Querendo, como Portuguez, confirmar o alto conceito, que todo o mundo faz deste Auctor Portuguez; e sendo o meu fim principal nesta Refutação defender a Religião contra os attaques da incredulidade; suspender os progressos da irreligião; despedaçar e lançar por terra o edificio da impiedade: transcrevi fielmente para ella aquelles versos e quadras inteiras, que não tinhão algum erro e veneno; e mudei em todo, ou em parte aquellas, que o tinhão, conservando os mesmos consoantes: ficando deste modo muito facilitado o trabalho d’aquelles, que tendo já infelizmente entregado á memoria a ‘Voz da Razão’, quizerem fazer o mesmo a esta Refutação; e sendo esta obra a mesma ‘Voz da Razão’ do Doutor ‘José Anastasio da Cunha’ expurgada dos seus erros e impiedades; e por tanto, se algum louvor merecer esta obra, a elle principalmente deve ser tributado. (…)”.
O Autor, brasileiro natural de Pernambuco, foi Doutor e antigo Lente da faculdade de Teologia de Universidade de Coimbra, Cónego magistral da Sé da mesma cidade, nomeado Deão em 14 de Maio de 1864 e governador do Bispado.
Acerca desta obra pode ler-se no ‘Diccionario Bibliographico Brazileiro’ de Sacramento Blake: “ O dr. José Anastacio havia escripto sua Voz da Razão em quadras: o padre Arantes, porém, compoz a refutação quasi das mesmas quadras, parodiando-as em sentido contrario e convertendo-as em exposição e confirmação dos dogmas da moral christã.”
Encadernação inteira de pele, da época.