RELAÇÃO DE EXEQUIAS, etc. EM MIRANDA DO DOURO. [No fim: NA IMPRESSÃO REGIA]. In-8.º gr. de IV págs. Desenc.
Raríssimo e muito curioso folheto, dado à luz da imprensa por ocasião das celebrações fúnebres em honra da Rainha D. Maria I.
“He a Cidade de ‘Miranda do Douro’, Capital da Provincia de ‘Tras-os-Montes’, huma das mais antigas Praças da Fronteira: hoje hum montão de ruinas, e quasi deserta, sem população, sem agricultura, e sem Commercio. A sua decadencia, tendo já principio antes da guerra de 1762, se augmentou consideravelmente com os estragos que esta lhe produziu; e se consumou com a mudança do Regimento N.º 24, do Bispo, e do Cabido para a Cidade de ‘Bragança’. Porém não obstante, sempre fiel aos seus legitimos Soberanos; no mais deploravel estado de miseria; e tendo mesmo parece que tocado o ultimo momento da sua existencia, como Povoação, tanto aquella he a maior, quanto são tambem maiores as demonstrações, e pr´vas da sua fidelidade, e Amor para com os seus Monarcas. Sendo das primeiras da Provincia que arvorou o Estandarte da liberdade contra o intruso Governo em 1808: (…). He tambem no actual momento, em que toda a Nação, envolta em luto, chóra a perda da Augustissima Rainha a Senhora ‘D. Maria I.’, que a Cidade de ‘Miranda’ dá ao Mundo o testemunho mais verdadeiro, o maior da sua fidelidade, e do seu mais acrisolado amor para com os Monarcas, com que o Ceo se digna felicitar os ‘Portuguezes’. Logo que naquella Cidade constou com certeza do fallecimento da Nossa Augustissima Rainha (…), ainda mesmo antes de receber-se o Aviso competente, expedido pela Secretaria do Governo, por ter voto em Cortes, convocada a Camara pelo seu Presidente o Doutor Juiz de Fóra, se concordou ordenar o Luto geral do Districto, e se passárão para esse fim as mais terminantes ordens. Chegada que foi depois a Carta de Aviso, e convocada novamente a Camara, se acordou fazer-se a Cerimonia da quebra dos Escudos no mesmo dia das Exequias, e que se fizessem os preparativos necessarios, a fim de set tudo executado com a maior pompa, sem se pouparem despezas, ou trabalho. Para essse fim se levantou no sumptuoso Templo da Sé de Miranda, hum dos melhores do Reinoem grandeza, e arquitectura, huma Eça correspondente, e de huma construcção delicada, e rica: collocou-se no meio della o Túmulo com as Insignias da Realeza aos pés, e este era cuberto com huma Cupula de figura oitavada, em que hião fechar as pontas de oito arcos dobrados, que sahião de outras tantas columnas, as quaes formavão os quatro porticos, que davão entrada ao elevado Supedaneo da Eça (…).
Documento de grande interesse, não só para a história daquelas celebrações fúnebres, mas também para a história de Miranda do Douro e das personalidades que ao tempo representavão os poderes daquela região e que neste documento ficaram devidamente nomeadas.