MIRANDA (Inocêncio António) [Abade de Medrões].- RESPOSTA // DO // ABBADE DE MEDRÕES // A’ SEGUNDA CARTA // DE // AMBROSIO A’S DIREITAS, // Na qual se mostra a sem razão com que o seu Au- // thor atacou a doutrina do Cidadão Lusitano, // e a hypocresia com que pertendeo incul- // car-se por muito devoto, a quem // o não conhecer. // (…) // LISBOA. M.DCCCXXII. // [travessão de enfeite] // NA TYPOGRAFIA DE M. P. DE LACERDA. In-8.º de 52 págs. Desenc.
Opúsculo bastante invulgar, publicado sob anonimato. Diz no ‘Dicionário Bibliográfico Português: “O auctor censurado julgou ter descoberto (se com verdade, ou sem ella ainda o não sei dizer) que estas cartas partiam do seu colega Francisco Xavier Gomes de Sepulveda, abbade de Rebordãos, e n’essa persuasão procurou desforçar-se, e sustentar as opiniões que manifestára sobre os pontos convertidos (…).”
Ainda que só parcialmente, transcrevemos o importante e competente artigo de Zília Osório de Castro, publicado no ‘Diccionário do Vintismo e do primeiro Cartismo’:
“(…) carácter vivo e trocista, na opinião do condiscípulo Francisco Xavier Gomes de Sepúlveda, teria aderido desde o início à orientação galicano-jansenista do seminário, quanto à credidilidade de certos princípios em que então se baseavam as relações entre a igreja e o Estado, e à vacuidade de algumas práticas religiosas. (…)”.
“(…)
“A publicação de ‘O Cidadão Lusitano’, que contou com duas edições no ano da sua publicação — 1822 (…) originou aceso debate e “confronto de ideias quanto à ortodoxia da doutrina e à piedade cristã”. “A obra fez correr muita tinta logo desde o início e desencadeou uma enorme reacção. O autor tratava ali das questões da legitimidade das Cortes e da necessidade da religião, referia-se ao poder do rei e aos deveres dos cidadãos, insurgia-se contra o celibato dos padres e denunciava a dependência de Roma quanto às dispensas matrimoniais, aos dias de abstinência e a alguns dias santos existentes. Em dois aditamentos , tratava da seita dos pedreiros livres e da disciplina eclesiástica.
“Lançado o ataque pela ‘Gazeta Universal’, jornal dirigido por José Joaquim Pedro Lopes e onde a influência de José Agostinho de Macedo era notória, cedo se alargou a um número significativo de publicações e de pamfletos, versos e peças satíricas, que atacavam directamente o abade e pediam a proibição dos seus escritos. (…) Com a queda do constitucionalismo, o cardeal D. Carlos da Cunha, de regresso a Lisboa, publicou uma ‘Pastoral’ em que proibia o livro sob pena de excumunhão. Passados anos, em 1826, também Roma, por decreto da Congregação do Índex, condenou a obra. Apesar de toda esta reacção, ela viria a contar com uma 3.ª edição nos anos trinta e uma quarta em 1874.”
“O ‘Cidadão Lusitano’, embora fosse o escrito mais conhecido e divulgado, não esgotava o número de publicações do abade. Outras foram igualmente veículo das suas ideias em matéria de religião e de politica. Estão neste caso a ‘Resposta à carta de Ambrósio às Direitas’ sobre alguns artigos do «Cidadão Lusitano», ‘Resposta do Abbade de Medroes à segunda carta de Ambrósio ás Direitas (…)’, ‘Homilia Constitucional (…), e a carta escrita em 30 de Novembro de 1812 ao prior de S. Lourenço (…)’.
“Um último aspecto permite-nos completar os dados biográficos caracterizadores da personalidade do Abade de Medroes. É a reabilitação pública da maçonaria. Inocêncio António de Miranda dedicou-lhe muitas páginas de ‘O Cidadão Lusitano’ salientando a consciência cívica dos maçãos e a sua prática de fraternidade, auxílio mútuo e filantropia. (…)”.
Conforme diz Oliveira Marques no «Dicionário de Maçonaria Portuguesa», Iniciado em loja e data desconhecidas fez, na obra acima indicada [O Cidadão Lusitano], uma extensa e documentada defesa da Maçonaria.”