REVISTA OCCIDENTAL. Lisboa. Escriptorio da Revista Occidental. 1875. [Lisboa. Typographia de Christovão Augusto Rodrigues]. 2 vols. In-4.º de 768 e 639-I págs. E.
Uma das mais qualificadas revistas portuguesas do século XIX, fundada por Oliveira Martins, literariamente dirigida por Antero de Quental e secretariada por Jaime Batalha Reis. Publicou importantes trabalhos em português e em castelhano, sendo colaborada por alguns dos mais notáveis escritores da época, sobretudo portugueses e espanhóis: Oliveira Martins, Antero de Quental, Rodrigues de Freitas, Maria Amália Vaz de Carvalho, Gonçalves Crespo, Luciano Cordeiro, Gomes Leal, Pedro Ivo, Adolfo Coelho, Júlio César Machado, etc.
Muito particularmente estimada e valiosa por nela ter sido publicado pela primeira vez e em primeira versão, o mais célebre romance de Eça de Queirós «O Crime do Padre Amaro».
A. Campos Matos, no seu magnífico «Dicionário de Eça de Queiroz», trata com pormenor das circunstâncias em que se processou a publicação do romance, dizendo: “A sua publicação enfureceu o romancista contra estes seus amigos do Cenáculo de Lisboa. Eça havia-lhes deixado, de partida para Newcastle, o original do romance que contava rever e refundir à medida que as provas impressas fossem chegando. As emendas e acrescentos eram porém enormes, enorme também a distância a percorrer pelas provas, o que não se coadunava com as exigências de periodicidade da revista, levantando-se ainda o problema da supressão de passagens consideradas demasiado realistas, que se supõe terem sido praticadas por Antero, o qual nunca aceitou os aspectos crus do realismo literário. (…) Já a 8 de Fevereiro Eça diz em carta a Batalha Reis, de Newcastle: «É ‘indispensável, é absolutamente necessário’ – que eu reveja umas segundas provas – ou as provas de página. As emendas que fiz são consideráveis e complicadas; e se um trabalho – onde o estilo já de si é afectado e amaneirado, todo cheio de pequenas intenções e tão dependente da pontuação – ajuntamos os erros tipográficos – temos um fiasco deplorável.» Dezoito dias depois Eça envia este telegrama a Batalha Reis: «Suspende imediatamente publicação romance manda provas o publicado absurdo não autorizo publicação resto sem rever provas.» E nesse mesmo dia em carta: «…estou verdadeiramente indignado. Pois quê? Eu dou-vos um ‘borrão’ do romance – e vocês em lugar de publicar o romance publicam o ‘borrão’!». Eça considera indispensável que a revista imprima uma declaração justificando a forma atabalhoada da publicação, pela ausência do seu autor na Inglaterra, o que de facto viria a acontecer no último folhetim, aludindo a Antero, na referida carta, nestes termos: «O Antero é o maior crítico da península mas entende tanto de arte – como eu de mecânica. O Antero dirigindo a publicação do ‘Padre Amaro’ é simplesmente hórrido: – A estas horas decerto – já a segunda parte está na rua – e o desastre é completo. (…)”
Colecção completa, raríssima e valiosa.
Encadernações com as lombadas de pele, com títulos e ferros dourados. Com pequenas imperfeições no topo e no pé da lombada.