NOBRE (Augusto), AFREIXO (Jaime) & MACEDO (José de).— A RIA DE AVEIRO. Relatório oficial do Regulamento da Ria de 28 de Dezembro de 1912. Lisboa. Imprensa Nacional. 1915. In-8.º gr. de VI-197-[I] págs. E.
“(…) Reùnidos pela primeira vez em 30 de Maio de 1911 e trocadas impressões gerais sôbre o assunto, em todos nós havia o mais decidido empenho de honrar a escolha com que nos tinham distinguido. A República, proclamada havia meses, manifestava acrisolado propósito de acudir aos problemas de fomento, livre de qualquer outra unfluência que não fosse a de bem fazer, e, assim, nomeava-nos para i estudo da ria, como já conhecedores do importante estuário e das questões que a êle se ligavam,
“Mas, devemos confessá-lo, também graves preocupações pesavam nos nossos espíritos. Muitos trabalhos se tinham apresentado acêrca da ria, é certo; contudo, nenhum dêles abrangia por completo o assunto, como êste, cujo programa, vagarosa e conscientemente organizado, sintetizava tudo quanto podia interessar à exploração das indústrias livres e à acção dirigente do Estado.(…).
“Ao mesmo tempo profunda incerteza sôbre a aplicação ou utilidade dos nossos esforços, se êles chegassem a termo, nos enclausurava o estusiasmo. ¿Quantas vezes, desde 1868 que nós saibamos, se vem tentando regulamentar a ria, sempre em balde? Ninguém ignora existir em Aveiro uma classe, «a gente da beiramar», composta essencialmente de negociantes de pescado e de fabricantes de sal, que não quere desistir de concorrer nas pescas da ria, mas com aparelhos fixos, sedentários, de trabalho mínimo e mais limpo, e de rendimento mais farto. Está bem de ver que nenhum legislador pode admitir armações ou rêdes permanentes em portos interiores, quando elas nem já nos portos abertos, enseadas, ou baías tem direito a ser lançadas. Daqui resulta condenarem tais rêdes, os ‘botirões’, todos tem vindo estudar o assunto, e por sua parte os botiroeiros manterem guerra aberta contra qualquer regulamento que na ria se pretenda implantar. (…).
“Os botiroeiros tem conseguido impor sempre a sua vontade. Estão socialmente muito acima dos desgraçados pescadores com os quais se unem nas ocasiões de luta, e dispõem de influência na política local, que lhes cobiça sempre os votos não querendo saber de mais nada. À sombra dos do botirão sustentam-se, é claro, as demais devastações, e dêste modo o magnífico estuário dá a impressão dum país de selvagens — como disse Edmundo Machado — onde o Estado nem fez respeitar o domínio público nem o particular. Quando todos os países marítimos cuidam carinhosamente da cultura dos mares, lançando-lhes milhões e milhões de peixes de criação, causa pena ver na ria de Aveiro, o melhor viveiro de repovoamento de toda a nossa costa, a apanha anual de muitas dezenas de metros cúbicos dêstes preciosos seres — para estrume! (…)”.
Cap. I: A ria: Condições físicas da ria e sua relação íntima com as indústrias; Condições biológicas da ria. Cap. II: Aparelhos de pesca e de apanha de plantas marinhas na ria de Aveiro. Cap. III: Fauna e Flora da ria. Cap IV: Causas de decadência. Cap. V: Defesos. Cap. VI: Viveiros, piscinas. Cap. VII: Viveiro modêlo, Escolas de pesca. Regulamento da pesca e da apanha do moliço na ria de Aveiro.
Relatório da mais alta importância para o conhecimento do assunto tratado, documentado com 1 gráfico impresso a cores intitulado «Peixes da ria, menos Sável e Lampreia» referente aos anos de 1901 a 1911; 3 cartas desdobráveis de grandes dimensões intituladas: Porto e Barra d’ Aveiro (Planta); Planta Hydrografica da Ria d’ Aveiro e do Rio Vouga até ao limite da jurisdição marítima; Plano Hydrográfico da Barra e Porto da ria d’ Aveiro) e ainda 15 ilustrativas estampas litográficas impressas a cores, também desdobráveis [ I: Um botirão isolado; II: Uma linha de botirões (3 Bateiras); III: Barco Moliceiro; IV: Galricho; V: Salto ou Parreira; Moluscos; VI: Fisga; VII: Anzóis; VIII: Fouce Roçadoura; IX: Ancinho de arrastar, Gadanhão, Rapão, Ancinho de manejo; X: Barco moliceiro na apanha do moliço; XI: Gadanha; XII: Marinha de sal da ria de Aveiro (Planta); XIII: Situação do local; XIV: Viveiro; XV: Eclusa, Poços para os aeromotores, muros].
Exemplar personalizado com dedicatória de Jaime Afreixo, Vice almirante e político português e um dos principais impulsionadores da criação do concelho da Murtosa.
Encadernação com lombada de pele, gravada a ouro, com rótulos e nervuras. Capas da brochura preservadas, só carminado à cabeça e com as restantes margens intactas.