VIEIRA (Padre António).— [SERMÕES] PALAVRA DE DEOS // EMPENHADA, E DESEMPENHADA: // ‘EMPENHADA’ // NO SERMAM DAS EXEQUIAS DA // Rainha N. S. Dona Maria Francisca // Isabel de Saboya; // ‘DESEMPENHADA’ // NO SERMAM DE ACÇAM DE GRAÇAS // pelo nascimento do Principe D. Joaõ Primoge- // nito de SS. Magestades, que Deos guarde. // ‘Prègou hum, e outro’ // O P. ANTONIO VIEYRA // da Companhia de Jesu, Prégador de S. Magestade: // ‘O primeiro’. // Na Igreja da Misericordia da Bahia, em 11. de Setem- // bro, anno de 1684. // ‘O segundo’ // Na Cathedral da mesma Cidade, em 16. de // Dezembro, anno de 1688. // [vinheta] //LISBOA; // Na officina de MIGUEL DESLANDES, // Impressor de S. Magestade. // ‘Com todas as licenças necessarias’ Anno 1690. In-8.º gr. de XVI-260 págs. E.
Rara contrafacção da XIII parte dos ‘Sermões’ do Padre António Vieira, não descrita por Maria Teresa Payan Martins no seu importante trabalho «Livros clandestinos e contrafacções em Portugal […]»: “Inocêncio Francisco da Silva, no primeiro tomo do ‘Dicionário Bibliográfico’, referindo-se a este volume dos ‘Sermões’, (…), denuncia a existência “de duas edições diferentes, com as mesmas indicações tipográficas, porém diversas nos caracteres”. (…). De facto, segundo nos foi dado observar, existem não duas, mas quatro edições diferentes deste tomo, apresentando, no pé-de-imprensa, as mesmas indicações tipográficas: «Lisboa, na oficina de Miguel Deslandes, 1690».
O exemplar que agora procuramos descrever revela uma outra contrafação, não descrita no valioso trabalho «Livros clandestinos e contrafacções em Portugal […]». Assim, para maior facilidade de identificação passaremos a nomear esta nova contrafacção ‘Edição E’: Em tudo semelhante ao frontispício da ‘Edição C’ descrita por Teresa Payan, evidencia o nosso exemplar substanciais diferenças que nos levam a considerar tratar-se de nova variante ou contrafacção, desde logo identificável por ter sido utilizado diferente ornamento xilográfico na folha de frontispício; ‘florão’ ou ornamento xilográfico que já teria sido utilizado para a portada da edição-falsa da I Parte de «Maria Rosa Mystica» saída dos prelos de Miguel Rodrigues (Payam, p. 325); ainda a propósito da ‘Edição C’ comenta a eminente historiadora: “Não restam quaisquer dúvidas quanto à atribuição da paternidade tipográfica da ‘Edição C’ a António Pedroso Galrão, pois o impressor quase autografou os exemplares. O final do «Sermam de Acçam de Graças pelo nascimento do Principe D. Joaõ Primogenito de SS. Magestades, que Deos guarde» (p. 120) é assinalada pela reprodução de uma gravura ornamental, que fora uma das marcas tipográficas de seu tio, João Galrão. (…)”. Gravura que na ‘Edição E’ por nós apresentada, não corresponde à que vem descrita e reproduzida neste prestigiado trabalho de investigação; também a págs. 57 existem características reveladas por M. Teresa Payan que não coincidem com o exemplar que apresentamos: “Um aspecto desta contrafação [Edição C] merece, ainda, menção particular. Na página onde se inicia «Palavra de Deos Desempenhada» (p. 57) foi impresso, naturalmente por lapso do compositor, «Palavra de Deos Empenhada», lapso que se não denuncia no exemplar por nós descrito [’Edição E’]; quanto ao ‘friso’ que dá ilustração à «CARTA DO PADRE // Antonio Vieyra (…)», impresso no início do volume desta ‘Edição E’, constatamos suficientes diferenças de pormenor que asseguram tratar-se de cuidada imitação quando comparado com o que é referido por Teresa Payan Martins e minuciosamente descrito [reproduzido na folha anterior] por Xavier Coutinho a págs. 550 das «Impressões Deslandesianas».
Para além das evidentes diferenças acima referidas constatamos ainda a utilização de diferentes letras capitulares e florões de remate
impressos a págs. 56; 120 e 239.
A propósito do impressor Miguel Rodrigues, considera-o Payan Martins: “(…) talvez o mais profissional dos impressores-falsários portugueses do século XVIII [aliás, sec. XVII]. (…)”.
Edição de inegável valor bibliográfico, com interesse para a história do Livro em Portugal.
Exemplar estimado, sem vestígio de qualquer restauro, papel muito limpo e crepitante. No final, com uma macha que afecta as margens das últimas 7 folhas.
Encadernação inteira de carneira da época, com defeitos superficiais nas pastas, que se evidenciam na pasta frontal. Com um insignificante vestígio de bicho que só superficialmente atinge a pasta posterior interna da encadernação e as duas folhas de guarda.