FERREIRA (António) [1528-1569].— ‘Tragedia Amorosa de dona // Ines de crasto, // Pessoas. // O Infante dom Pedro, // Secretario, // choro das coimbrãas, // El Rey dom afomsso, // pero coelho. comselheiro // Diogo lopez pacheco, cõselheiro, // dona Ines de Crasto, // Ama, // mesageiro,’. Caderno [dim aprox. 14×19 cm.] com 45 ff. E.
Importante manuscrito seiscentista, intitulado «Tragedia Amorosa de dona Ines de crasto», cujo texto revela evidentes semelhanças com o texto publicado por Manuel de Lira na raríssima edição de 1587, cujo único exemplar conhecido se encontra depositado sob reserva na British Library, em Londres [TRAGEDIA // MUY SENTIDA E ELE- // gente de Dona Ines de Castro; aqual foy repro // sentada na cidade de Coimbra. // ¶ ‘Agora novamente acrescentada’. // […] // ¶ ‘Impressa com licença por Manoel de Lira de 1587].
Uma leitura mais atenta do manuscrito revela variantes que julgamos do maior interesse para a fixação do texto desta obra-prima da literatura clássica portuguesa, uma vez que evidencia alguma diversidade de texto que revela omissões, acrescentos e substituição de palavras quando confrontado com a edição ‘princeps’ de Manuel de Lira, editada 18 anos depois da morte do Doutor António Ferreira.
No final do documento as últimas 8 páginas, manuscritas com a mesma letra do corpo principal de volume, apresentam ‘Sonetos [nove] feitos por outro Autor’; ‘Huã maneira de Cançaõ Italiana a q chamão sextina, porem na nossa [nosso] medida’. [ao que pudemos apurar graças às diligências feitas pelo Prof. Filipe Alves Moreira da Faculdade de Letras da Universidade do Porto todos da autoria de Sá de Miranda]
Acresce ainda a este importante documento uma nota na última página (manuscrita por outra mão que não a do corpo principal) que embora delida pela acção de água não impede a sua parcial descodificação e que revela dizer respeito ao “Capitão mor dos Rios de cuama (…) e à “Cidade de Coimbra por administrador general (…) de Moçambique E dos dittos Rios”. Na mesma página apresenta ainda dois sonetos e um texto escrito na posição inversa [de baixo para cima].
Na primeira página, também diluído pela água, ficou registado um curioso registo de umas missas feitas em 1636 por morte de um fiel defunto falecido a 26 de Janeiro do mesmo ano. Em um sábado no qual foi dia de S. João Clímaco do seu próprio nome e à contagem das missas efectuadas.
A propósito da edição ‘princeps’ diz Isabel Almeida na «Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa — BIBLOS»: “ (…) anónima, também, foi a impressão, já póstuma, da ‘Tragédia muy sentida e elegante de dona Ines de Castro’ (note-se que o testemunho mais antigo hoje disponível é de 1587, mas, segundo notícia registada em documentos inquisitoriais de 1581, poderá ter precedentes mais recuados). (…)”.
Conforme se pode ler no frontispício da edição ‘princeps’, esta ‘Tragédia’ “Agora novamente acrescentada”, foi representada em Coimbra. Cremos assim poder supor a possibilidade de se tratar de documento coevo, anterior a 1587, passando assim, caso se confirme a suposição, a ser este documento o mais antigo ‘testemunho’ até hoje conhecido da famosa tragédia ‘Castro’, composta durante a estadia do poeta em Coimbra, entre 1552 e 1556.
Para melhor e mais autorizada informação bibliográfica, pode consultar-se, entre outros importantes trabalhos, os dois volumes publicados em Paris pela Fundação Calouste Gulbenkian que constituem a tese de Doutoramento de Adrian Roig, dedicada à vida e Obra de António Ferreira [Série Histórica & Literária], ou ainda a edição crítica de Thomas F. Earle aos «POEMAS LUSITANOS», também publicados pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Encadernação coeva em pergaminho mole ainda com fragmentos de atilhos e nervuras e sem vestígios de qualquer restauro.
Embora completamente delidos, com indícios de ter tido escritos manuscritos na pasta frontal.