VIEIRA (Padre António).— VARIAS CARTAS // do // M. R. P. M. // ANTONIO VIEYRA // da // COMPANHIA DE JESU. // Callificador do S. Off. Missio= // nario Apost da Prov. do Brasil // Pregador das Magestades // dos SENHORES REYS. // D. IOAÕ IV. D PEDRO II. [dim. aprox. 15×21 cm.]. [II]-I-187-[II] ff. E.
Conforme cópia de um apontamento assinado pelo Professor Catedrático Emérito, Arnaldo Espírito Santo, que acompanha este manuscrito, o códice conteria “na origem 119 cartas agrupadas por destinatário e ordenadas cronologicamente dentro de cada grupo, salvo uma excepção devidamente assinalada pelo organizador da colectânea.” Dados que estão pormenorizadamente relatados no documento, onde se revela não só o nome dos destinatários [D. Rodrigo de Meneses“ Diogo Marchão Themudo, Desembargador do Paço; António Luis de Sousa, Marquês de Minas; Conde de Castelo Melhor; Roque da Costa Barreto; Francisco Barreto], como também as respectivas datas, que oscilam entre 1663 e 1692, e os locais de onde foram originalmente escritas [Coimbra, Roma e Baía].
Sublinha Arnaldo Espírito Santo que “Todas estas cartas se encontram publicadas na Imprensa Nacional em edição de João Lúcio de Azevedo, que na totalidade dos casos, ou quase, as tomou da 1.ª edição de 1735. Há no entanto, diferenças de texto e de datação que mereceriam ser reanalisadas e, provavelmente, corrigidas na edição de Lúcio de Azevedo a partir do confronto com as leituras desta colectânea. Tal será o caso de duas cartas ao mesmo destinatário enviadas da Baía na mesma data (23 de Junho de 1683), quando de facto uma é de 23 de Junho e outra de 29 de Julho. O valor testemunhal desta colectânea não é pois de desprezar.
“Há sinais que indiciam que as cartas desta colectânea, embora não sendo autógrafas, foram copiadas em finais do séc. XVII, ou, quando muito, em princípios do séc. XVIII. Da nota que introduz a carta 106 deduz-se, por um lado, que Vieira já tinha morrido e, por outro lado, que o organizador da colectânea dispunha de informações, como quem com ele privara, sobre as circunstancias e a matéria dessa carta: «Dizem que este e dous amigos traduziram as Pedras de David em Português, porém, não se imprimiram senão depois da emenda do A. Os nomes que aqui não se expressam, foram riscados, e eraõ dos companheiros na tradução das ditas Pedras». Os nomes riscados no original ou no rascunho, de que se serviu o organizador da colectânea, faltam também na primeira edição de 1735. Há, ainda, outros aspectos que denotam um conjunto de características comuns à colectânea e à primeira edição. A mais evidente é indicarem D. Rodrigo de Meneses como destinatário das cartas n.º 46, 47 e 48. Lúcio de Azevedo argumenta que se trata de João Nunes da Cunha e não de D. Rodrigo de Meneses.
“Estas e outras características comuns apoiam a hipótese de que o Conde da Ericeira, organizador da primeira edição, e depois dele o Padre António dos Reis, utilizaram materiais vindos do Brasil, enviados pelo Padre António Maria Bonucci, secretário de Vieira na parte final da sua vida, e que foi encarregado pelo Superior Geral da Companhia de enviar para Roma uma cópia do original da ‘Clavis Prophetarum’. Numa carta datada de 9 de Julho de 1698, um ano depois da morte de Vieira, na qual agradece a incumbência, pela confiança nele depositada, Bonucci, enquanto espera a oportunidade de lançar mãos à obra, ocupa o tempo em recolher cartas de Vieira: «Entretanto, diz ele, engano o tempo que sobra, procurando diligentemente por toda a parte algumas cartas do mesmo venerável ancião escritas não só a estranhos como a confrades nossos, das quais tenho o prazer de enviar ao menos uma a Vossa Paternidade, fielmente copiada do seu autógrafo, para que, por ele, possa Vossa Paternidade, no seu apuradíssimo critério, ajuizar se vale a pena dar a público as trezentas que até ao momento recolhi; e simultaneamente conceda autorização de as mandar para Roma a fim de serem revisadas e divulgadas.»
“João Lúcio de Azevedo formulou a hipótese de que a primeira edição foi organizada com duzentas e tantas cartas recolhidas por Bonucci, que foram remetidas para Lisboa com o restante espólio. Tratar-se-ia dos rascunhos que Vieira dera ao seu secretário, Padre José Soares, para transcrever, e uma ou outra cópia autógrafa do original enviado ao destinatário.
“Em suma, esta colectânea pode constituir uma cópia elaborada, ou organizada e mandada copiar por Bonucci a partir de uma primeira recolha de cartas. Uma análise aprofundada das grafias mais típicas poderá vir a dissipar dúvidas sobre esta questão. Numa análise rápida e necessariamente superficial notaram-se algumas ocorrências de grafias italianizantes, como é caso de ‘escritta’ e ‘escrittas’, em vez de ‘escrita’ e ‘escritas’, como ocorre sem excepção nos autógrafos de Vieira contidos no cod. 901 BN. Trata-se, no entanto, de um indício que necessita de confirmação mais ampla e significativa. Poderá trazer alguma luz suplementar a identificação da marca de água da carta n.º 106, f. 164. Em todo o caso, dos elementos que foi possível recolher deduz-se que estamos perante um testemunho cronologicamente próximo do fim da vida do Autor e que depende directamente de rascunhos autógrafos ou de originais ditados por Vieira. Uma opinião totalmente segura só poderá ser dada após a leitura integral do texto da colectânea, e após o seu confronto com o texto da primeira edição.”
Acerca de António Maria Bonnucci [Arezzo, 1651; Roma, 1729], jesuíta ordenado em 1680 em Roma, partiu em missão para o Brasil no ano seguinte, rumo à Bahia numa expedição liderada por António Vieira.
Desde 1682 fundador da ‘Confraria da Boa Morte’ [Bahia] fez publicar em 1695 em Lisboa a «Escola de Bem Morrer». Um ano mais tarde, depois de ter estado na ‘Congregação Mariana’ no Recife, foi chamado ao colégio baiano, onde foi nomeado secretário do padre António Vieira, tendo-o auxiliado na redacção da obra «Clavis prophetarum». Após a morte de Vieira, foi Bonucci quem preparou a edição, além de também ter sido o responsável pela recolha e ordenação da sua correspondência.
Estojo de pele inteira executado nas Oficinas ‘Invicta Livro’, imitativo de encadernação decorada a ouro na lombada, com ferros gravados em casas-fechadas e os respectivos dizeres devidamente separados por 5 nervuras; as pastas conservam embutidas duas peles gravadas (cremos que aproveitadas de uma encadernação antiga): a da frente com um retrato do Padre António Vieira inspirado na célebre gravura de Arnold Van Westerhout «Vera effigies celeberrimi P. Antonii Vieyra …», a posterior com o logotipo da Companhia de Jesus.
Exemplar proficientemente estabilizado e restaurado nas oficinas da Biblioteca Nacional e acondicionado numa caixa de botões rápidos em cartão livre de ácido; com vestígios antigos de traça.