Manuel Ferreira não é apenas alfarrabista. Organiza leilões e catálogos de “livros raros e esgotados”. É, de resto, o único na cidade. Os pedidos chegam de todo o País e até do estrangeiro. Clientes que sabem que, ali, “os livros são tratados com carinho e por quem sabe”. Pelas estantes da livraria já passou até uma primeira edição de «Os Lusíadas». E não só, porque este livreiro/leiloeiro vendeu, igualmente, uma colecção de manuscritos medievais, em pergaminho, adquirida pela Câmara do Porto. Aliás, as bibliotecas públicas e os grandes coleccionadores sabem bem o valor de Manuel Ferreira.
A funcionar há quarenta anos no número 19 da Rua Formoso, a livraria «Manuel Ferreira, Ldª» é a única no Porto que realiza leilões de livros raros. Livros esgotados há muito, documentos valiosos, gravuras e mapas antigos.
Uma profissão “notável e apaixonante”, explica Manuel Ferreira, o proprietário. “Nem me imagino a fazer mais nada. Ser livreiro não é ganhar dinheiro, é ganhar livros”, confessa-nos, enquanto percorre com um olhar embevecido as muitas estantes que o rodeiam.
A paixão pelos livros nasceu quando ainda era menino, “pelo facto de ser muito pobre e de não ter dinheiro para ler”, conta. Assim, comprava livros usados, lia-os e voltava a vendê-los. “Comecei a ganhar algum dinheiro com a brincadeira e até hoje nunca mais parei”, diz. E acrescenta: “já lá vão cinquenta e seis anos de profissão”. Hoje é um dos alfarrabistas de maior prestígio nacional. O número de livros que tem, não o sabe de cor, pois, como diz “os números nunca me preocuparam”. Duma coisa está certo: “Tenho livros que sobrem até ao fim da minha vida”.
LEILÕES
Pouco tempo depois de ter aberto a livraria, Manuel Ferreira iniciou-se na actividade leiloeira. Começou, primeiramente, por elaborar catálogos para uma agência de leilões de antiguidades e hoje fá-los por conta própria, “mas sempre de bibliotecas particulares”, explica. Uma tarefa que “requer muito tempo”, mas que, no fim, “deixa marcas para o futuro”, garante.
Os maiores clientes destes leilões são as bibliotecas públicas e os coleccionadores privados. Pelas mãos de Manuel Ferreira já passaram obras de grande valor, como, por exemplo, uma colecção de manuscritos medievais em pergaminho, datada dos séculos XVI, XV e XVI, adquirida pela Câmara Municipal do Porto. Actualmente, encontra-se à disposição do público na Casa do Infante e representa um núcleo notável de investigação histórica sobre a cidade. polskie kasyno online legalne opinie
Os leilões são a forma que encontrou para poder “desfazer bibliotecas particulares, enriquecendo outras”, as de quem compra. Trabalho que é, de resto, reconhecido pela maioria. O historiador Artur de Sandão e o poeta Alberto de Serpa – colaborador de «O Primeiro de Janeiro» até ao seu desaparecimento – são disso um exemplo. Qualquer um deles deixou expressa a vontade de ser Manuel Ferreira o leiloeiro das suas colecções particulares. darmowe gry kasyno bez logowania
CATÁLOGOS
“Hoje, e cada vez menos, as pessoas visitam as livrarias”, diz António Ferreira. Ir ao encontro do público é, portanto, uma necessidade a que a livraria não fica indiferente. Assim, a maior parte das vendas que realiza são feitas por catálogo, distribuídos pela vasta lista de clientes que, entretanto, conquistou. Um trabalho mensal que requer “paciência beneditina, muito querer, paixão e curiosidade”.
“No dia em que sai um catálogo ninguém pára”, conta. As encomendas são mais que muitas e “prolongam-se durante todo o dia”.
A ajuda que recebe por parte da família é “grande e preciosa”, sobretudo a dos dois filhos que consigo trabalham “em dedicação exclusiva e por opção”. Deixar o negócio nas mãos da família é um sonho que gostava de ver realizado, mas não por obrigação. gry kasyno online vulkan “Não gostava que os meus netos se dedicassem à livraria, somente para dar continuação ao nome da casa, mas antes por sentirem vocação para tal”, sublinha.
TECNOLOGIAS
Desde que os seus filhos passaram a colaborar no negócio, a livraria nunca mais foi a mesma, “passou a respirar um ar mais moderno”. Hoje, toda ela está informatizada, o que facilita a organização e a rapidez da resposta. As novas tecnologias são, de resto, bem vistas pelo proprietário que reconhece mesmo “não ser capaz de viver sem elas”.
Quanto à ameaça que representam para o livro impresso, o livreiro responde prontamente: “Nada ocupará o lugar do livro”. Apesar da Internet oferecer aos seus utilizadores, nos dias que correm, um universo cultural sem limites e, até, mesmo a edição integral de muitos livros, António Ferreira acredita que “fazer livros por paixão será sempre algo que nunca deixará de existir”. Adianta, mesmo, uma teoria: “Assim como a política europeia vai caminhando para a unificação, exigindo a defesa de certas marcas, o mesmo vai acontecer com o livro. Vai ser preciso defendê-lo conservando o que existe, e dando continuidade à produção”. Além do mais, não há nenhuma tecnologia que possa proporcionar o “imenso prazer” de ter entre mãos uma primeira edição de «Os Lusíadas», como Manuel Ferreira já teve a oportunidade de sentir. Aliás, ainda hoje, guarda religiosamente o paninho que a envolvia, da qual nunca se desfez.
CLIENTES
Na sua livraria aparece todo o tipo de público. No entanto, todos obedecem a um requisito: “serem cultos”.Aliás, clientela é o que não falta. “Temos mais dificuldade em comprar do que em vender”, é que livros com qualidade “não se encontram todos os dias”, reafirma.
Mário Soares e José Régio são apenas dois nos nomes sonantes que já passaram por esta livraria. Muitos outros fizeram-no anonimamente, por correio ou por telefone. Mas todos eles fizeram-no, certamente, por saberem” a maneira e o carinho com que tratamos os livros”, assegura.
No que diz respeito às livrarias de edições actuais, Manuel Ferreira diz “não se tratar de concorrência”, pois enquanto estas se preocupam com os livros que estão à venda, os alfarrabistas “preocupam-se com o que está esgotado”. O único paralelismo possível de se estabelecer é no material que ambas utilizam: o livro. Aquilo que para o livreiro é, cada vez mais, “um investimento seguro”.