Se os livreiros, nomeadamente os antiquários, ocupam um lugar de relevo na vida cultural duma cidade, Manuel Ferreira é figura de primeiro plano desse tipo particular de bibliófilos, que continuamente renovam as suas colecções, prontos a ceder o livro desejado para servir o estudioso ou deliciar o amador.
Manuel Ferreira é um apaixonado dos livros desde os doze anos em que, à margem da loja de móveis usados do pai, fazia um pequeno comércio dos livros que lia. Em 1947, começou a organizar catálogos para leilões e há 25 anos que colabora com Soares & Mendonça em mais de meia centena de almoedas no Porto e em Lisboa. Adquirir, assim, um raro conhecimento de muitos milhares de obras dos mais variados géneros, entre elas muitas de grande importância e raridade, provenientes de famosas bibliotecas, que lhe mereceram cuidadoso estudo, origem das mais completas notas bibliográficas. Único livreiro do Porto que tem elaborado catálogos para leilões, tornou-se assim muito conhecido no país.
Desde 1967 reuniu livros raros e esgotados, distribuídos por quinze catálogos e mais de uma dezena de boletins policopiados.
A maior parte das vezes não é na modesta loja que podemos ter o seu convívio agradável, mas é no armazém. É, na verdade, ao fundo de fiadas, ao fundo de fiadas intermináveis de volumes que os clientes o podem encontrar, manejando o imenso ficheiro. tippmix eredmények tegnapi Com o tempo perdeu-se o hábito, facilitado pelo lazer, de frequentar a loja do livreiro que se tornava um amigo e era o centro de uma tertúlia. Enquanto os boletins bibliográficos são enviados para casa do amador que faz a encomenda pelo telefone, os leilões tornaram-se o modo mais vantajoso pra vender uma colecção de livros e esses têm um público com tendência para um certo estado psicológico, que cria um ambiente característico e, como a procura é maior do que a oferta, o preço dos livros vai-se elevando.
As obra raras não interessam somente aos bibliófilos, mas atraem também os que pretendem uma forma de investimento.
Por insuficiência de verbas e delongas burocráticas das entidades oficiais competentes, muitas preciosas espécies são vendidas para o estrangeiro sem limite de preço. kalkulátor tippmix O nosso património cultural fica empobrecido por falta de legislação eficiente e apropriada. Manuel Ferreira, que não envia catálogos para o exterior sem pedido expresso, goza de fama de ser um comerciante que procura vender as obras raras para compradores nacionais. magyar bukméker
Nestes últimos meses, Manuel Ferreira trabalhou na catalogação da maior e mais preciosa colecção de manuscritos que vai a leilão. Foi tarefa delicada, mas também deliciosa; ler, inventariar e ordenar os textos autógrafos que o magnífico poeta presencista Alberto de Serpa reuniu durante toda a vida. Adivinha-se o extraordinário interesse do tesouro que só foi possível conseguir pela pesquisa apaixonada e pelo privilégio de inextimáveis relações de amizade.
O antiquário-livreiro dá assim a mão ao Poeta, na nobre tarefa de preservar o nosso património literário, que deveria caber ao Museu Nacional de Literatura, cujo projecto ajudou a conceber, mas foi abandonado ao descaso dos que, depois, o não souberam levar a cabo.
Uma vez mais a liberdade da iniciativa particular se revela mais fecunda do que o Estado.