CASTRO (E. M. de Melo e).— CARA LH AMAS. Poemas eróticos e sarcásticos. 1964/1975. fernando ribeiro de mello / edições afrodite. [Lisboa. 1975]. In-8.º de 73-VII págs. B.
Antologia de poemas experimentais e visuais escritos entre 1964 e 1974, divididos em quatro capítulos: «1. Líricas e Orgásticas (ou do órgão)»; «2. Visuais (ou do olho)»; «3. Linguístas (ou da língua)» e «4. Sarcásticas (ou do sacro)». Com um interessante prefácio do autor, sobre este livro, a sexualidade, o erotismo, a pornografia e a obscenidade.
Pedro Piedade Marques na obra ‘EDITOR CONTRA. Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite’, reforça a importância desta obra na história deste irreverente editora, na viragem do pós 25 de Abril: “não sendo propriamente duas “recuperações” de catálogo, as edições de ‘Cara Lh Amas’ e da ‘Antologia de Poesia Latina Erótica e Satírica’ são apostas no passado desse prestigiado catálogo. Ernesto de Melo e Castro, ligado à Afrodite desde as atribulações da ‘Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica’, dez anos antes, publica aí, por fim, um livro de poesia visual com esta reunião de “Poemas Eróticos e Sarcásticos”. No Prefácio, o autor contextualiza-os na própria história da Afrodite: os poemas fariam parte de um “livro em projecto” em 1964, alguns dos quais foram depois publicados naquela ‘Antologia’:
«…no ambiente eroticamente obscuro e repressivo dessa ‘longíqua’ data, o título tinha toda a justificação numa função de choque e de (re)descoberta das enormes potencialidades criativas do vocabulário maldito. (…)
No entanto, o livro (que ia crescendo organicamente) não podia obviamente ser publicado. Apenas ficou na mente de alguns amigos especialistas a existência de tal título e de tal projecto de publicação na Afrodite-Fernando Ribeiro de Mello, claro.»
Esta edição em 1975 era, portanto, e ao mesmo tempo, a publicação de um projecto de um dos autores e colaboradores da Afrodite que ficara na gaveta e também, de certa forma, uma recuperação da aura “maldita” dessa ‘Antologia’ de 1965, agora que começava a parecer cada vez mais difícil uma resolução do diferendo com Natália Correia para a sua reedição. Era também uma maneira de reclamar o estatuto de editor erotólogo e “atrevido” que Ribeiro de Mello tivera de abandonar havia muito tempo: a cinta do livro anunciava “de Cara Lh Amas e Con Emas são feitos estes poemas”.
Livro de bastante invulgar aparecimento no mercado.