SOUSA (Frei Luís de).— ANNAES DE ELREI DOM JOÃO TERCEIRO. Publicados por A. Herculano. Lisboa. ‘Typ. da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis’. […]. 1844. In-8.º gr. de XXIII-[I]-469[I]-VIII págs. E.
Primeira edição, cuidadosamente impressa em papel de linho, dada à imprensa por Alexandre Herculano a partir de um manuscrito por ele descoberto na Biblioteca da Ajuda. Edição ilustrada com o fac-símile de uma folha avulsa do manuscrito, acompanhada no final com «Noticias extrahidas dos apontamentos de Fr. Luiz de Sousa, relativas ás lacunas que se encontram no Manuscripto».
Diz M. Rodrigues Lapa no erudito prefácio da segunda impressão — publicada na «Colecção de Clássicos Sá da Costa» — tratar-se de “uma edição fiel, como seria de esperar do seu editor. O manuscrito que ao princípio é perfeitamente legível, na letra elegantíssima do próprio Sousa, é depois um borrão informe de letra miuda e acrescentada, muito dificil de decifrar. […] a obra […] é um monumento mutilado. Da primeira parte, que de tôda a certeza ficou concluída, faltam alguns capítulos nos livros 2.º e 5.º e ainda os livros finais a seguir ao 5.º, que seriam presumivelmente mais cinco. Diz Herculano, e a nós também nos resta essa esperança, que é possível completar um dia a obra, com algum achado nas bibliotecas de Portugal e Espanha. […]. Mutilada embora, essa obra histórica, à qual serviu importante material de investigação, acusa o grande artista clássico, aqui mais concentrado ainda. O estilo não tem a doçura dalgumas descrições da ‘Vida do Arcebispo’ e da ‘Historia de S. Domingos’; acomoda-se mais à narrativa histórica, tem por vezes uma brevidade nervosa, sacudida; mas é sempre duma correcção e elegância exemplaríssima, salvo às vezes, muito raro, uma nota de cultismo, acusada na propensão para o jôgo de palavras. O frade dominicano faz gôsto em descrever as correrias africanas, em que se verteu tanto sangue português. O pobre monge lenbrar-se-ia às vezes que foi cavaleiro e poeta, e o seu estilo parece animar-se a essa recordação. […]. Dizia o Padre António Vieira, outro grande escritor, na aprovação que redigiu para a 3.ª Parte da ‘História de S. Domingos’ […]: «A propriedade com que fala em tôdas as matérias é como de quem a aprendeu na escola dos olhos: nas do mar e navegação fala como quem o passou muitas vezes, nas da guerra como quem exercitou as armas, nas das côrtes e paço como cortesão e desenganado; e nas de perfeição e virtudes religiosas como religioso perfeito… A arte de falar com propriedade em tudo o que abraça ũa história não se estuda nas Academias de Ciências, senão na Universidade do Mundo». Perfeitamente acertado: ora essa experiência da vida, êsse conhecimento do mundo, que deixou na alma um travo de desilusão, em nenhuma obra melhor se espelham do que nos ‘Anais de D. João III’
Encadernação antiga, com nervos, rótulo e ferros gravados a ouro fino. Com uma singela dedicatória [Ao Xavier] à cabeça da folha de anterrosto e um pequeno rasgão a págs. 451/452. Com ténues manchas de humidade.