VIEIRA (António) [COSTA (Manuel)].— ARTE DE FURTAR. Edições Afrodite. Fernando Ribeiro de Mello. [Lisboa. 1970]. In-8.º de 389-III págs. B.
Interessante edição deste célebre clássico por muito tempo atribuído ao Padre António Vieira, nesta edição aparecido como de um “Anónimo do Séc. XVII”. Comentários de Natália Correia, Armando Castro, Hernâni Cidade e João Bénard da Costa e desenhos surrealistas de Eduardo Batarda.
Clássico da literatura portuguesa, assim descrito pelo padre jesuíta Francisco Rodrigues, figura determinante na atribuição da verdadeira autoria da ‘Arte de Furtar’: “A ‘Arte de Furtar’ é um dos livros que mais têm sido estudados e discutidos, para se descobrir o seu autor. Desde que apareceu impresso pela primeira vez em fins de 1743 ou princípio de 1744 até ao dia de hoje, não esmoreceu êsse estudo nem a discussão parou. Já são dois séculos de investigação, de divergências e de luta, e a controvérsia e a dúvida mantiveram-se de pé no decorrer de tantos anos.
“Mas a obra merece, pelo seu valor intrínseco, tão aturada pesquisa, tão persistente debate? Sim, merece-o plenamente. A obra é valiosíssima na literatura portuguesa, de cunho original, de estilo ameno e desenfastiado, instrutiva, clássica.
“O autor, na sua veia satírica, umas vezes jocosa, outras acerada e cáustica, emquanto parece que expõe e ensina os processos e arte de furtar, informa elegante e adequadamente o leitor sôbre a maneira de atalhar furtos e desarmar ladrões. Compôs obra de impressiva originalidade.
“Mas por entre as modalidades de seu estilo peculiar, vai espalhando lições admiráveis sôbre o govêrno das nações, sôbre a arte de bem reinar, sôbre as leis da mais severa e racional moralidade, descreve-nos com pinceladas de mestre a sociedade portuguesa daquele século XVII, e instrue agradàvelmente sôbre os usos populares dêsse tempo. (…)”. [’in’ «O Autor da Arte de Furtar. Resolução de um antigo problema» de Francisco Rodrigues].
Obra pela primeira vez publicada sob o nome suposto do padre António Vieira, com falsa atribuição do respectivo impressor, local e data de publicação, circunstancia que gerou acesa polémica entre os eruditos que procuraram desde sempre determinar a verdadeira autoria desta obra que, talvez por razões de ordem comercial, continuou a ser publicada sob o nome do Padre António Vieira.
Finalmente, depois da descoberta de um manuscrito coevo e original depositado no arquivo central da Companhia de Jesus, em Roma, o investigador jesuíta Francisco Rodrigues apresentou em 1940 ao ‘Congresso do Mundo Português’, a tese que atribuía ao padre Manuel da Costa a verdadeira autoria desta célebre obra considerada uma das mais emblemáticas do período da Restauração de 1640 e um dos mais importantes textos da literatura portuguesa de costumes dos séculos XVI e XVII.