CASTILHO (Augusto de).— RELATÓRIO DA GUERRA DA ZAMBEZIA EM 1888. Pelo Ex-Governador Geral da Provincia de Moçambique. Capitão de fragata. Lisboa. Imprensa Nacional. 1891. In-4.º de 175-I-LX págs. E.
Exposição sobre a revolta dos bongas, uma população nativa da Zambézia que, liderada pelo seu destemido líder Motontora conseguiu reunir elementos para uma forte resistência à ocupação portuguesa. O autor da obra, então governador geral da província de Moçambique, partiu imediatamente para a região subindo o rio e, chegado à vila de Sena, ordena ao governador de Manica o estabelecimento de um quartel-general numa aringa (campo fortificado entre os indígenas), na foz do Muira.
Na elucidativa introdução à obra, Augusto de Castilho escreve:
“O estado de guerra que na Zambezia se tem quasi tornado chronico, tem sido o principal motivo do atrazo em que jaz ainda aquella região, e das difficuldades que o governo da metropole e o governo local têem encontrado em fazer progredir e desenvolver aquelle vasto territorio. (…)
“Quando em maio de 1888 rebentaram as primeiras novas hostilidades precursoras da guerra d’aquelle anno, ou antes quando ellas chegaram ao meu conhecimento a Moçambique em fins de junho, achava-me eu mal convalescente de uma grande doença, e fazendo preparativos para seguir para Portugal a mudar de ares. Entretanto, como poderia haver quem malevolamente me quizesse atribuir a responsabilidade dos recentes desgraçados acontecimentos, e quem d’elles se servisse para me aggredir, visto que tem sido frequente lançar-se para isso mão de pretextos bem mais frivolos, e como poderiam esses meus detractores dizer que eu me esquivava a responsabilidades e perigos, entendi dever partir para a Zambezia, para ver por meus olhos o que se passava, e poder mais directamente, e com menos probabilidades de ser enganado, apreciar a verdade toda, adquirir de ‘visu’ mais perfeito conhecimento das cousas da Zambezia, e habilitar-me a representar ao governo de Sua Magestade, na mais conveniente fórma, as complexas necessidades d’aquelle paiz, as providencias indispensaveis para n’elle mantermos a ordem e a tranquilidade, e os meios de fomentarmos largamente a sua agricultura, o seu commercio e a exploração liberrima e segura das suas grandes riquezas mineiras.”
Edição enriquecida com dois mapas desdobráveis de grandes dimensões impressos a cores: «esboço do mappa do rio zambeze entre Tete e Anquase» e «Plano de Massangano, theatro dos principaes acontecimentos da guerra de 1888»; um minucioso apêndice com importantes documentos oficiais e, ainda, treze gravuras assinadas por João Almeida de página inteira com a respectiva descrição, as quais destacamos: «portal da fortaleza de S. Marçal de Sena»; «vista interior da aringa D. Maria Pia no Goengue»; «vista interior da aringa do rebelde Motontora»; «Igreja de S. Thiago Maior da Vila de Tete»; «Missão de S. José de Boroma»; «o rio Zambeze visto da missão de S. José de Boroma para jusante».
Livro de raro aparecimento no mercado.
Encadernação da época, com a lombada de pele, decorada com nervuras e florões gravados a ouro. Pastas revestidas com bonito papel de fantasia com ornamentos florais. Com sinais de manuseamento.
Conserva as capas da brochura originais, com assinatura de posse do escritor e jornalista Julião Quintinha.