SANTOS (José dos).— CATÁLOGO DA MAGNÍFICA LIVRARIA. Que pertenceu ao grande Jornalista e ilustre Diplomata português JOÃO CHAGAS. Organisado por… Prefacío pelo distinto publicista Luís Derouet. MCMXXVII. Composto e Impresso na Ottosgrafica. Lisboa. In-8.º gr. de VIII-314-II págs. E.
Catálogo bastante invulgar, elaborado por um dos nossos mais proficientes colegas, a quem se devem tantos outros catálogos de referência obrigatória para quantos se dedicam à bibliografia e à cultura portuguesa.
“Escrever de João Chagas nunca foi fácil. Falar em conjunto da sua obra propagandista, da sua acção literária, da sua superioridade, da sua cultura invulgar, muito mais difícil. João Chagas, que, a dentro da sociedade do seu tempo, marcou um lugar áparte, foi sempre alguem: republicano, revolucionário, jornalista, panfletário, escritor, diplomata, soldado, chefe, em todas as fases da vida a sua individualidade se assinalou, Depois de 1910 até hoje — será talvez uma opinião audaciosa, mas da qual estou firmemente convencido — a falta de João Chagas na élite republicana do país é a maior que se tem sentido. […]. Estudioso, abrangendo o pensamento e a acção, soube multiplicar-se, revelando a cada passo novas faculdades e sabendo sobretudo expor, com elegância e com concisão, o que lhe ia na alma, o que tinha a comunicar, quer pela palavra, quer pela pena. Se o político logrou a evidência, tendo afirmado o caracter através da sua passagem pelo Aljude do Pôrto, pelos conselhos de guerra de Leixões, pela fortaleza de S. Miguel de Loanda, pela cadeia do Limoeiro, pela presidência do Ministério e pela Legação de Portugal em Paris, como jornalista ’doublé’ de homem de letras não resta dúvida que foi muito além da trivial celebridade dos nossos homens de Estado- […]. João Chagas não amontoou as obras estrangeiras sôbre Portugal, que constituiam o encanto da sua biblioteca, por um simples capricho. Um pensamento mais elevado o guiou e sabe-se qual foi. Patriota, português acima de tudo, não havendo afronta ao nosso nome, por mais pequena que se afigurasse, que não recebesse imediata e condigna resposta, João Chagas teve a constante preocupação de emprestar inteligência ás suas estantes, como emprestou unidade lógica a todos os actos da existência, assim se mostrando e percebendo por que coleccionou tudo o que lá fora se escrevia e publicava acêrca da nossa terra, e á qual voltou, após mais de dez anos de ausência em França, apenas por uma questão de decôro nacionalista, que está longe de confundir-se com a simples ideia da «saudade da Pátria» […]”
Edição ilustrada com um retrato de João Chagas.
Encadernação modesta, com lombada de pele.