MACEDO (Padre José Agostinho de).— CENSURA DAS LUSIADAS. Lisboa. Na Impressão Regia. Anno 1820. 2 vols. In-8.º peq. de 295-I e 271-I págs. E. em 1.
Palavras de Inocêncio F. da Silva retiradas das suas «Memorias para a vida intima de José Agostinho de Macedo»: "Entretanto José Agostinho cada vez mais indignado de que as suas invectivas contra os ‘Lusiadas’ não produzissem o fim a que aspirava; vendo que á proporção que avançava em seus dicterios e motejos, se realçava entre naturaes e estranhos a fama do vate portuguez, que o seu ‘Oriente’ bem longe de offuscar aquelle immortal poema, servira pelo contrario de incentivo para serem melhor estudadas e mais devidamente sentidas e apreciadas as innumeraveis bellezas, que n’elle resgatam com tanta usura esses inevitaveis defeitos, que a inveja ou a malevolencia tem pretendido assoalhar e avultar aos olhos do mundo; propoz-se a fazer um ultimo esforço, rompendo todos os diques da decencia, do decoro e por assim dizer do pundonor nacional, depoz os pequenos vislumbres da fingida contemplação, que em algumas occasiões figurava guardar, fallando de ‘Camões’; (…) empenhou-se não menos em mostrar ‘ex professo’, que os ‘Lusiadas’ não obstante a sua celebridade e o consenso de dois compridos seculos, apezar de lidos comentados e tantas vezes traduzidos e louvados, eram na realidade um poema monstruoso, um tecido de erros, de incoherencia e de destemperos, destituido até do menor resabio de estylo e colorido poetico; cheio de versos errados e prosaicos, de incorrecções, de faltas de linguagem e de grammatica. Eis o objectivo de dois volumes de oitavo que no principio de 1820 deu á luz com o titulo de ‘Censura dos Lusiadas’, obra que diz compozera em dez dias, (valha a verdade!) mas que de certo não era mais que a tradução dos seus pensamentos desde muitos annos".
São raros os exemplares desta discutida obra de José Agostinho de Macedo, infeliz na opinião de muitos autores, "um complexo de paradoxos, incoherencias, contradicções flagrantes, e argucias pueris", segundo Inocêncio, mas nem por isso de indiscutível importância na vastíssima bibliografia passiva camoniana. Primeira edição.
Encadernação inteira de pele, da época, com a lombada decorada com ferros gravados a ouro.