[NOGUEIRA (Joaquim António) (Trad.)] — [HOLBACH (Paul Henry Thiry) [Baron de].— O CONTAGIO SAGRADO, OU HISTORIA NATURAL DA SUPERSTIÇÃO. Lisboa 1839. Na Typographia Lisbonense. 2 vols. In-8.º de 153-I e 152-II págs. E. em 1.
“’Sr. Visconde’.— Não me tenho esquecido de que a ultima vez que nos vimos, entre varias coisas de que fallámos, foi uma d’ellas a antipatia que tantos homens illustrados da nossa nação tem actualmente á religião: não me esquece tambem a surpresa que a V. E. causava, o encarniçamento com que elles procuravão destruir um systema, bem que incapaz de conter os sabios, ao menos vantajozo por adequado para sugeitar a multidão a modificar as paixões dos ignorantes. Contentei-me então de responder em globo, que com um pouco de reflexão se veria de um modo evidente, que a religião era como a caixa de Pandora, da qual tinhão sahido todos os males que afligem a raça humana (…) Eu tivera podido, sem duvida, dar muito maior extenção a esta obra, expondo grande numero de factos para provar minhas opiniões, mas uma pessoa tão versada na historia como V. E., não tem necessidade de que se entre em analizes enfadonhas, môrmente quando o que lá digo me parece sufficiente para o desenganar das preocupações, e erros que tão prejudiciaes são ao genero humano. A religião que em todos os paizes do mundo se tem feito o objecto da maior importancia, é a verdadeira causa da ignorancia, da escravidão, das extravagancias, e corrupção dos homens, e se a nossa ilha afortunada goza de liberdade, e outras vantagens de que estão privadas outras nações, deve-se isso aos exforços de nossos antepassados, que ao menos diminuirão em parte o poder, e a influencia que a superstição exercia sobre nós. (…)”. [excerto de uma carta do autor, publicada a título de ‘apresentação’].
Diz Inocêncio que "Esta versão foi publicada sem o nome do traductor. Sendo accusada pelo ministerio publico, por abuso de liberdade de imprensa em materia religiosa, foi julgada affirmativamente pelo tribunal do jury competente, e como tal mandada supprimir e arrestada. Escapou todavia a maior parte dos exemplares, que continuaram a vender-se mais ou menos descobertamente, havendo só da parte dos editores a cautela de fazerem substituir os antigos rostos por outros, com a indicação de ‘Madrid’ em vez de Lisboa". Assinale-se que o exemplar que descrevemos apresenta os primitivos frontispícios.
No ‘Dictionnaire des Ouvrages Anonymes’ diz Barbier sobre a edição dita de Londres (Amsterdam, M.-M. Rey), 1768 [Contagion (la) sacrée…]. “Cet ouvrage est réellment de la composition du baron d’Holbach. C’est pour se soustraire, lui et ses amis, à tout genre de désagrémens qu’il a annoncé, dans l’avertissement, l’avoir traduit de l’anglais de Jean Trenchard et de Thomas Gordon. (…)”.
Encadernação à antiga, com a lombada em material imitativo da pele. Carminado à cabeça e com ligeiro aparo das margens.