GAMBOA (Hipólito).- A CORCUNDICE EXPLICADA MAGISTRALMENTE, OU RESOLUÇÃO DE DOIS PROBLEMAS INTERESSANTES A RESPEITO DOS CORCUNDAS. I. ‘Que cousa seja hum Corcunda?’. II. ‘Quem são os verdadeiros Corcundas?’. Pelo Doutor Hipolyto Gamboa Acérrimo Liberal. Lisboa: — Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira. Anno de 1822. In-8.º de 28-II págs. Desenc.
Opúsculo bastante invulgar e curioso, com interesse para a bibliografia do liberalismo em Portugal.
“He porém de notar, que entre todas as palavras, que tem sahido da fabrica, ou feitas de pouco, ou concertadas, nenhuma prefere á palavra ‘Corcunda’ no prestimo, no uso, e até nos privilegios. Achava-se ella posta a hum canto cheia de ferrugem, porque a ninguem servia de ordinario, senão aos rapazes da rua, arreiros das estradas, e outros heroes a elles semelhantes quando tinhão de recitar as suas eloquentes surriadas a algum desses infelizes, a quem a natureza, o desastre, ou a velhice entortárão o espinhaço. Hoje a tal palavrinha está mais luzidia, que hum espelho: anda nas azas da fama: está servindo todas as horas: deve ser proferida cada dia mais de vinte vezes, e quem assim o não fizer, he hum velho carunchoso, ou hum desengraçado jarreta, se he que o não baptizarem com o nome de ‘servil’. (…)”.
Com ténues manchas de humidade.