BARREIROS (Gaspar).— CHOROGRAPHIA. Por Ordem da Universidade. 1968. [Coimbra]. In-8.º gr. de X-XXIV-247 ff. e CXCVI págs. E.
Edição diplomática deste interessantíssimo livro quinhentista, intitulado ‘Chorographia de alguns lugares que stam em hum caminho, que fez Gaspar Barreiros ó anno de M.D.xxxxvi. começãdo na cidade de Badajoz em Castella, te á de Milam em Italia, cõ algũ as outras obras, cujo catalogo vai scripto com os nomes dos dictos lugares […]”.
Impresso em Coimbra em M. D. LXI por «Joã Aluarez impressor da Universidade», o livro de Gaspar Barreiros é da mais extrema raridade. […]. Gaspar Barreiros pertencia à família dos Barros de Viseu, de quem foi preclaro representante um nome que enche a nossa historiografia do século XVI: João de Barros. Sobrinho deste grande historiador, Gaspar Barreiros foi cónego da Sé de Viseu e depois da de Évora. Como beneficiado desta última e criatura do Cardeal Infante D. Henrique foi escolhido para levar a Roma os agradecimentos do príncipe pela sua elevação ao cardinalato. Em 1546, pois, iniciou a sua viagem o cónego Gaspar Barreiros […].
“Esta viagem de Itália era para todos os homens do Renascimento como que uma peregrinação aos lugares eleitos do espírito e da cultura. Por isso mesmo o nosso viajante havia de ter recebido alvoroçadamente o honroso mandato do Cardeal Infante, tanto mais quanto as suas curiosidades e inclinações espirituais iam encontrar na viagem de Itália fortes estímulos e motivos de contra-prova ao seu saber tradicional. […].
“Foi aquele ‘ver por experiencia’, conducente à reprovação das ‘conjecturasd dos modernos’ baseadas exclusivamente no saber livresco, que fez da ‘Chorographia’ um dos livros de mais fina erudição e de mais desassombrada crítica do nosso século xvi.
“Geógrafo e antiquário com larga preparação intelectual — pode afirmar-se mesmo que todos os seus estudos os fez com o objectivo de o ser — Gaspar Barreiros, além do gosto próprio, teve nos desejos do autor ‘Da Ásia’ o estimulante da sua natural curiosidade. […].
“Português até à medula, Gaspar Barreiros durante a sua peregrinação por terra alheia trouxe sempre presente a sua terra natal, mas o seu amor terranês não o inibiu de julgar e comparar com exactidão e objectividade. […]”.