LISBOA (Irene) [Pseud. FALCO (João)].— ESTA CIDADE! Lisboa. 1942. [Gráfica Lisbonense]. In-8.º de 427-V págs. B.
Edição da autora e um dos estimados e invulgares livros de Irene Lisboa, João Falco por pseudónimo, nome de raras e manifestas qualidades na literatura portuguesa contemporânea.
Com interesse para um retrato de Lisboa: “Recolho neste volume umas tantas observações sôbre casos que conheci, que me pus a desfiar e a reconsiderar tranqüilamente. Tirei dêles novelas? Creio que não. Fiz dêles histórias pitorescas ou até morais? Também não creio. Pu-los simplesmente em letra redonda, contei-os. Contar ainda é um meio de dar corpo, um esbôço de estrutura se não estrutura completa aos assuntos. […]. Ora eu não pretendi desta vez cultivar a novela nem o romance. Esquivei-me ao formalismo da sua composição e subordinei-me ao da observação desinteressada e a uns laivos de crítica. Assim contrariei a básica orientação romanesca: armar e tornar lógico para despertar o interêsse; embelezar ou afeiar para impressionar. A composição novelística ou romanesca implica a deformação e a teatrealização do pequeno nó da realidade. Torna-se o seu espêlho mágico. É um produto de arte, uma espécie de ilusionismo elegante, pelo que excede a modesta causa que muitas vezes a origina. A excede ou a sufoca, segundo os casos.
“Mas tendo eu actualmente a curiosidade persistente do que me rodeia em vez de tentar o romance, isto é, a sua amplificação e derivações, lembrei-me de narrar. Porque hei-de eu romancear? Conto, exercito-me a analisar os casos e as criaturas. As qualidades literárias do romance podem-se tranportar para qualquer outro ramo da arte. Análise, compreensão, interêsse pela acção e pelo jôgo dos sentimentos tanto se podem exercer no romance como na simples narrativa. […]”
Capa de brochura ilustrada com um interessante desenho de Ilda Moreira, provavelmente inspirado numa cena lisboeta.
Acompanha este exemplar um invulgar FOLHETO VOLANTE, à cabeça ilustrado com um desenho não assinado de Ilda Moreira, representando uma vista do Tejo a partir de uma janela da cidade; Em baixo com os seguintes dizeres: “Esta cidade! […] Panoramas físicos e morais da cidade de Lisboa […]. Cremos que do punho da autora com a seguinte nota manuscrita: “É grande favor e gentileza indicar novos leitores à autora”.