S. JOSÉ DE QUEIROZ (Frei João de) [1711-1764].— MEMORIAS DE FR. JOÃO DE S. JOSEPH QUEIROZ, Bispo do Pará. Com uma extensa introducção e notas illustrativas por Camillo Castello-Branco. Porto. Typographia da Livraria Nacional. […] 1868. In-8.º de IV-219-[I] págs. E.
Interessante e muito invulgar livro de ‘Memórias’ de D. Frei João de S. Queirós [da Silveira] [1711-1764], nobre clérigo natural de Matosinhos.
“Professou na Ordem de S. Bento, em Tibães, em 1729, e estudou Filosofia no de S. Miguel de Refóios de Basto. Passou a conventual de Santo Tirso e, depois, ao mosteiro de S. Bento, em Lisboa, onde conviveu com Diogo Barbosa Machado. Mereceu também as boas graças do marquês de Pombal, sobretudo pela antipatia que manifestava abertamente para com os jesuítas. Por interferência do ministrode D. José, foi nomeado […] bispo do Grão-Pará, aonde chegou em 31-VIII-1760. Duas vezes visitou toda a sua diocese e para isso percorreu novecentas léguas, em grande parte atavés de imensas regiões inexploradas do Amazonas. Embora o seu comportamento fosse o de um digno e austero sacerdote, imputaram-lhe acusações tão graves, que, por ordem do próprio marquês de Pombal, foi preso em sua casa e metido a bordo em 24-XI-1763, para Portugal, onde foi intimado a recolher-se ao convento da Pendorada, no alto da serra de Arados, e aqui viveu oito meses, profundamente desgostoso pelo castigo. […]. Acusaram-no de avareza e sofreguidão, de violências e represálias e ofensas a pessoas, mas todas estas acusações rebateu-as vigorosamente em carta que dirigiu a um dos prelados da Ordem de S. Bento. Apesar da defesa que lhe faz Camilo (in ‘Memórias de D. João de S. José Queirós, Porto, 1868), continua a ser desconhecida a causa da acção que lhe foi movida. Alguns escritores atribuíram certos abusos na aplicação de multas e outros castigos. A sua ironia deve ter sido uma das fontes não confessadas da sua desgraça. As suas memórias, publicadas muito depois da sua morte, revelaram que Manuel de Faria e Sousa, com o qual conviveu, na juventude, no convento de Refóios de Basto, lhe endereçou muitos anos depois, ásperas recriminações só por se haver esquecido de lhe dirigir elogios nas suas composições poéticas. Também se conta que a sua austeridade o levou à prática de actos de extraordinária violência, sobretudo contra as modas femininas. […].
Deixou manuscritas as suas memórias, publicadas, um século depois. pelo ‘Jornal do Comércio’ do Pará; uma descrição da visita que fez à sua diocese [em 1761], ao longo do Amazonas, mais tarde publicada na ‘Revista do Instituto Histórico-Geográfico do Brasil’ e, ainda uma colecção de histórias e anedotas, a que deu o nome de ‘Miscelânea’. [’in’ Grande Encic. Portug. e Brasileira].
Primeira edição em livro das obras acima relatadas, acompanhada de uma extensa e interessante «Introdução» que ocupa as primeiras 43 págs. do volume; importantes ‘Notas ilustrativas’ e um «Prefácio» à primeira visita do bispo do Pará ao sertão, tudo da autoria de Camilo Castelo Branco.
Encadernação antiga de modesta manufactura.
A págs. 17 com um carimbo da ‘Quinta das Lágrimas’, localizada na freguesia de Santa Cruz de Coimbra e hoje classificada como ‘Imóvel de Interesse Público’.