BRANDÃO (Tomás Pinto) [1664-1743] e outros.— [Obras de Thomaz Pinto Brandam / Obras de varios Authores]. [Dim. aprox. 20,5×29,5 cm.]. Volume manuscrito com [III]-I-216-[I]-V-[II]-[IV] ff. E.
Importante manuscrito, cremos que anterior à edição ‘princeps’ da obra de Tomás Pinto Brandão «PINTO RENASCIDO, EMPENNADO, E DESEMPENNADO», dado à imprensa em 1732, de elevado interesse para o estudo da ‘Vida e da Obra’ de Tomás Pinto Brandão, célebre poeta popular nascido na cidade do Porto, cuja obra se revela importante repositório de acontecimentos sucedidos no último quartel de século XVII em Portugal e do primeiro do século seguinte.
“Tomás Pinto Brandão é um produto típico dos finais do século XVII e primeiras décadas do século XVIII. Poeta e relator dos principais sucessos da Corte, boémio e polemista, deixa-nos uma obra eivada de misérias e dedicada, na sua quase totalidade, ao louvor dos agentes do Poder, ao rei e à nobreza. No entanto, a par desse arremedo de «jornalismo» oficioso e oficial, no sentido que tal ocupação poderia ter no seu tempo, foi poeta satírico que soube denunciar as injustiças sociais, fraudes, corrupção administrativa e proteccionismos escandalosos que caracterizaram o reinado de D. João V e de que nos deixou, como exemplo máximo, a grande sátira ‘Este É o Bom Governo de Portugal’. As restantes sátiras, infelizmente, ou andam perdidas ou são atribuídas a outros poetas da época, (…). A Tomás Pinto Brandão o que interessa é, fundamentalmente, a classe dominante e não o povo, que nas suas silvas e décimas, embora implícito nas andanças do autor, está quase ausente. Não obstante, é fácil detectar grandes linhas gerais da preocupação social nos finais do século XVII e inicios do século XVIII, nas composições de Pinto Brandão. (…)” [excerto retirado do prefácio de João Palma-Ferreira que serviu a edição «Este é o Bom Governo de Portugal», Publicações Europa-América, 1976].
Particular atenção merece aqui a publicação da violenta sátira contra o governo de D. João V, intitulada «Pinto Renascido, empennado, e desempennado (…)». obra que neste manuscrito se encontra maioritariamente representada, não só na ‘primeira parte’ [Obras de Thomaz Pinto Brandam], mas também na segunda que comporta ‘Obras de vários Authores’.
Assim passamos a descrever apenas os textos manuscritos não incluídos nas edições de 1732 ou de 1753, cremos que inéditos:
PRIMEIRA PARTE [Obras de Thomaz Pinto Brandam]
— a págs 38/39: “Motte Glozado ao Marques de Gouveia [Motte 2.º: Oh altos montes ouvime (…); Gloza: Campos, e Arvores vezinha, (…).];
— a págs. 95/96: “Ao carvoeiro, que prenderam na portaria do Convento da Roza no anno de mil, e sete centos, e vinte, e tres. [4 Décimas];
— a págs. 97: Villansico: Freiratices acorday (…). [ 1 Copla];
SEGUNDA PARTE [Obras de varios Authores]
— de págs. 241 a 257: ‘Sinco suspiros da terra por sinco linguas da queixa na morte da Snr.ª D. M.ª Narciza de Castro recolhida no Recolhimento do Castello de S. Jorge desta Cid.e’ + 3 Sonetos ‘ao mesmo assunto’;
— de págs. 258 a 262: ‘Copia de huma sentença, que deu hum vereador da Camera de Sam Tiago de Cacem.’ [Datada de 7 de Mayo de 1718, Ass. José da Veiga Cabral];
— de págs. 262 a 268: ‘Carta de hum Ourives da prata prezo: em resposta de outra, que lhe escreveu o Corregedor do Crime da Corte, e Caza, perguntandolhe, qual era a cauza de sua prizam, e culpa, e quem era a sua parte para o favorecer em seu livramento, pois se achava na prizam, (…) por hum acazo de huma forsa que houve nas Olarias feita a huma Senhora chamada Donna Maria Viollante da Cunha de Saá mulher cazada, mãs auzente de seu marido, porem com sucessaõ em seu lugar de hum Thomaz de Souza, com quem já sem escandalo tratava; e com ella se achou o dito Ourives em companhia de outros, de cujo cazo se tirou devassa a tal Senhora, e dagradados para a India, (…)’; segue-se: Meu Snr os pezares aos alivios, asim como saõ opostos por natureza, asim saõ emcontrados nos passos: os pezares feitos de pennas caminham com azas: os alivios como gostozos; andam com molletas: naõ he minha tençam chamarlhes aleijados, más he sim o meu designio mostralos vagarosos, esta verdade comprova a carta de vossa mercê, (…)”’;
— de págs. 267 a 271: ‘Carta que veyo das Minas no anno de 1708 de hum amigo para outro’. “(…) V. M.ce [me vem?] em hum empenho de seis horas, que responda á Sua carta dandolhe noticia do estado, em que estam estas Minas, eu lhe obedeço a [V.Ex.ª?] como (el niegro, mas bien mandado) que lhe digo está isto (en Laberinto de Creta) e a inda agora (peor está), questava, porque cada Senhor está cá feito (el valliente Campuzano) por cuidar cada hum (…)’. [Ass. Fulano de Tal];
— de págs. 271 a 277: ‘Carta para hum amigo, que estava em o Rio de Janeiro em resposta de outra’. “Meu amigo, e Senhor, as cartas de V. Ex.ª cauzaram nesta terra hum grande alvoroço, que nos obriga a hum grande sentimento, ainda naõ sendo dos lembrados, emtrando todos adezafiar seu cuidado: (…)’ [Ass. Fulanejo Gonsalves];
— de págs. 277 a 280: ‘Carta de Dr. Pedro de Saá escripta a Fr. Simam da Aprezentaçam mandandolhe os parabens de guardiam do Convento de Santa Catherina dos Arabidos.’;
— de págs. 280 a 282: ‘Carta de Frey Pedro de Saá a Frey Manuel Guilherme’. “Senhor Frey Manoel Guilherme já V. Ex.ª ouviria dizer, que gato escaldado de agua fria hã medo: inda mal, que tanto dá agua na pedra, athe que quebra: más consolome com que todos os odios vam dar ao mar. (…). Tudo isto vem a somar que hontem por naõ ter, que fazer fiz huma vezita a Fr. Gorgulho (…). Olhe Manoel sabes tú, que me mostrou elle húa carta daquelle monstro da natureza daquella trampa sem alma, digo daquella freirinha, que de correr com todo o mundo tem já calo nos pés (…). [Ass. Fr. Nome sobre nome];
— de págs. 283 a 288: ‘Carta que as Freiras do Calvario mandarao a Fr. Pedro de Saá dandolhe o pezame porq huma Freira dom.º Conv.º o deixou por outro chamado Fr. Lucas’. Segue a ‘Resposta de Fr. Pedro de Saá as mesmas Freiras’ que termina com dois Sonetos;
— de págs. 288 a 299: ‘Carta que o Padre Frey Feliciano da Veiga escreveu a huma Freyra, com quem tinha tratado.’ “Senhora aquelle baixel constante do meu amor, que pelos mares da fortuna navega atte agora, vento em poupa, sem que os penedos da tua dureza fossem riscos para o seu naufragio, agora já derotado, e destruido, como barquinha pobre, e sem alentos está no porto dos dez enganos, receando tentar as ondas de que fugio, por naõ perigar nos baixos de que escapou. (…) As velas dos meos dezejos a que inchavam filizmente a viraçam da lizonja dos teos carinhos já despadassadas do temporal, publicam por muitas bocas o meu arependimento fazendose dezejos juntos, aos que foraõ dezejos nescios. (…). A Dos Senhora: A Deos para sempre, athé que naquelle valle ultimo de dezenganos nos vejamos ambos, anciozos nas esperanças daquelle bem, que alcançam os dezenganados, Se Deos com emtranha de piedade quizer [?] purificar meu amor, para que só nelle me empregue, e me fassa todo seu, jáque athe agora fuy todo teu.] [Ass. Feliciano];
— de págs. 299 a 300: ‘Motte. Desdichado del que vive (…). Gloza em decimas. Que pena! asta la harmonia (…)’; Motte. Isso vezinha acabou. Proguntay minha vezinha / Se he bom andar com Selicios, (…)’;
— págs. 301: ‘Motte. A mais formoza que Deos. Gloza. Eu com duas Damas vim / De huma certa romaria, (…); Motte. Saudades, athe quando: Gloza. Saudades, que me quereis, / Que tanto me atormentais (…)’;
— págs. 302: ‘Motte. Quem pintou o amor cego, Naõ o soube bem pintar (…). Gloza. Cego amor querem fazer, (…)’;
— págs. 303: ‘Motte. De bacho de minha saya, / Tenho huma vela seza, (…)’;
— de págs. 304 a 305: ‘Motte. Manda El Rey Nosso Senhor que ninguem nos tenha amor.’ [4 Glozas];
— de págs. 306 a 307: ‘A Porcissam que a Comunidade das Freiras de santa Monica féz athe a Seé.’ [5 Décimas];
— de págs. 307 a 308: ‘As Freira de Odivellas, quando sahiraõ fora por naõ quererem acceitar, ou tornar a recolher a huma Freira que tinha fugido do Convento cim hum seu amante.’ [1 Decima + 1 Resposta];
— de págs. 308 a 310: ‘Ao roubo de huma Mossa feito por hum Capado chamado [Alonso?] musico, grande de corpo, do qual senamorou ouvindoo cantar no lugar do Lumiar, e depois lhe fugio com industria.’ [11 Décimas com Estrebilho];
— págs. 311: ‘A hum Clerigo chamado o Padre toucinho que desonrou huma Mossa, ca emprenhou, e lhe quis dar huma bebida, para a fazer mover, e sabendose o cazo o prenderaõ no Aljube.’ [4 Décimas];
— págs. 312: ‘A hum moleiro chamado Fernando do Pó, aquem hum pescador achou achou em sua caza, comoeu com hum pao, por querer brincar com huma Filha.’ [3 Décimas];
— págs. 313: ‘A hum Sargento, a quem hum touro deu hum boleo.’ [1 Décima + Resposta];
— págs. 314: ‘Ao nome de El Rey nosso Snr. D. Joaõ 5.º o qual tem por nome Joaõ, Francisco, Jose, Antonio, Bento Bernardo’ [1 Décima];
— págs. 314: ‘Aos Meninos orphaõs sahindo de noute a ver as luminarias no anno de 1716.’ [1 Décima];
— de págs. 315 a 326: ‘Dos touros, que se correraõ em Lisboa na festa do Conde da Torre pelo Senhor Antonio Barboza Bassellar.’ [Sylva 1.ª];
— de págs. 358 a 359: ‘Seu motte debaxo da aza, castas se hiam meter pelos camarotes das Senhoras, ou pelos asentos de baxo, e alguma foy emtrar na tribuna Real: os quais eram os seguintes Mottes.’ [21 Mottes];
— de págs. 360 a 368: ‘Rellaçaõ no primeiro dia de touros da Junqueira no anno de 1738 com quatro Cavalleiros: o Duque de Cadaval, o Marquês de Alegretr, o Bisconde de Ponte de Lima, e o S. Payo.’ [Sylva 9.ª];
— págs. 368: ‘No outro dia de touros, em que toureou Lourenço Ferreira, e Manoel de Souza foy em 25 de Agosto de 1738 huma grande tormenta de vento fês, grande reboliço de palanque de que ficou alguma gente bem maltratada.;
— de págs. 384 a 385: ‘Obra que se fes em Rogaçaõ dos Reus da comjuraçaõ feita a [……….] ao nosso Monarcha o Senhor D. Joze o 1. Fala qualquer delles. [2 Sonetos, no final ass. E.M.A.C];
— de págs. 386 a 389: ‘A El Rey N. S.r melhorando da mollestia, que padeceu, procedida da notoria, e sacrillega Conjuraçaõ, que sustentou contra a Sua Augustissima Pessoa, e precioza vida; Aos agressores do temerario insulto antes do suplício; Do mesmo assumpto segd.º; Fallando com os delinquentes depois do suplicio.’ [4 Sonetos];
— de págs. 398 a 402: ‘Satira, que fes Thomas Pinto ao Governador, e [teor?] parciais na entrega do Rio do Janeiro. [Satira];
— de págs. 403 a 518: ‘Sonho tam claro, que se fes dormindo, Anatomia Relligioza, sem mais couza nenhuma,’ [30 págs.] [ass. “O P. Fr. Lucas de S.tª Catherina, Religioso de S. Domingos”];
— págs. 433: ‘Dezemgano do Amorfirme athe a Morte / chorandochorey. chorava Amorzinhos Desta Sorte [?] 1769”.
De seguida faremos menção de textos intregrados na SEGUNDA PARTE do manuscrito, incluídos em ambas as edições do ‘Pinto Renascido’, embora com pequenas variantes que não importa aqui referir:
— de págs. 327 a 332: ‘Rellaçaõ do primeiro dia dos sette touros da Camera, de que era presidente o Conde da Ribeira toureou Bento Antonio no anno de 1723.’ [Sylva 2.º]; [ed. 1732, págs. 104] & [ed. 1753, págs. 74];
— de págs. 332 a 339: ‘Rellaçaõ do primeiro dia de touros, que mandou vir o Infante D. Francisco de Castella, na festa de N. Snrª do Cabo, que se celebrou no terreiro do Passo, toureou Bento Antonio, e outro que pelo nome naõ perca.’ [Sylva 3.ª]; [ed. 1732, págs. 330] & [ed. 1753, págs. 250].;
— de págs. 340 a 344: ‘Rellaçaõ no segundo dia de touros Castellanos á mesma festa de Nossa Senhora do Cabo’. [Sylva 4.ª]; [ed. 1732, págs. 340] & [ed. 1753, págs. 257].;
— de págs. 345 a 347: ‘Rellaçaõ no terceiro dia de touros, em que toureavaõ o Conde dos Arcos, e D. Henrique; houve m.tº Fidalgo aos tombos, houve huma morte de cavalo, sem haver touro, que investi-se ao Cavalleiro, e tambem houve Chuva.’ [Sylva 5.ª]; [ed. 1732, págs. 347] & [ed. 1753, págs. 262].;
— de págs. 348 a 352: ‘Rellaçaõ no quarto dia de touros na mesma festa de N. Snr.ª do Cabo em que touriou Antonio Antunes Portugal já com mais de setenta annos.’ [Sylva 6.ª e 1 Oitava]; [ed. 1732, págs. 351] & [ed. 1753, págs. 165].;
— de págs. 352 a 355: ‘Relaçaõ no quinto dia de touros, que foy o primeiro da festa de N. Snrª da Piedade, tourava D. Henrique, por signal que cahio, houve hum touro de fogo com Europa sentada nelle’ [Sylva 7.ª] [ed. 1732, págs. 112] & [ed. 1753, págs. 79];
— de págs. 355 a 357: ‘Rellaçaõ no sexto dia de touros em que toureou Gomes Freire, houve outro touro de fogo com Africa em sima.’ [Sylva 8.ª] [ed. 1732, págs. 116] & [ed. 1753, págs. 82];
— de págs. 368 a 380: ‘Rellaçaõ das festas do futuro na Castanheira no anno passado em claro sendo Juis D. Thomaz Bisconde de Ponte de Lima, Mordomo D. Thomaz Conde dos Arcos, escrivam D. Thomaz Conde dos Sementerios: mordomos por sua devoçam Vinte, e quatro Thomistas; he de saber, que se suppoem, o que havia de succeder nas ditas festas, que se naõ fizeraõ sendo as de mayor estrondo.’ [Sylva 10.ª, com motte e gloza] [ed. 1732, págs. 162] & [ed. 1753, págs. 117];
— de págs. 380 a 384: ‘Nas despedidas das festas de futuro na Santa Castanheira pelo mesmo Thomaz Pinto tambem suppostos.’ [Romance] [ed. 1732, págs. 178] & [ed. 1753, págs. 129];
— de págs. 390 a 398: ‘Rellaçaõ na emtrada que fizeram Suas Magestades em Santarem, festas com que a Camera os recebeu, e retiro para Salvaterra, offerecida aos Monteiro, que asiste nas cazas das cortisas com tres camaradas. [Sylva 11] [ed. 1732, págs. 140] & [ed. 1753, págs. 101];
Manuscrito proficientemente restaurado pelo departamento de Conservação e Restauro da Biblioteca Nacional, reencadernado nos mesmos serviços com uma encadernação inteira de pele de cor castanha, sobre 5 nervos de características codicológicas semelhantes às da edição original.