VERNEY (Luís António).- PARECER // ‘DO DOUTOR’ // APOLONIO PHILOMUSO // LISBONENSE, // Dirigido a um grande PRELADO do Reino // de Portugal, // ‘Àcerca de um papel intitulado’ Retrato de Mortecor, ‘seo // Autor D. Alethophilo Candido de Lacerda.’. [No fim: SALAMANCA // Na Officina de Garcia Onorato 1750. ‘Com Licensa dos Superiores’.]. In-4.º peq. de 102 págs. E.
Publicação muito rara, com interesse para a bibliografia da importante polémica criada ao redor da publicação do ‘Verdadeiro Método de Estudar’, onde Verney, sob anonimato, de forma respeitosa mas implacável analisa os livros e os métodos de ensino da Companhia de Jesus, confrontando a situação do ensino em Portugal com o conhecimento Europeu iluminista.
António Alberto Banha de Andrade no seu monumental trabalho «Vernei e a Cultura do seu Tempo», acerca do ‘Parecer do Doutor Apolonio Philomuso Lisboense (…)’ confirma a existência de duas distintas edições supostamente publicadas em 1750, ambas com 102 páginas, mas que facilmente se distinguem uma vez que uma — a que agora apresentamos — tem registo tipográfico no cólofon [SALAMANCA // Na Officina de Garcia Onorato 1750// ‘Com Licensa dos Superiores] e a outra termina com uma ADVERTENCIA, sem qualquer registo tipográfico.
A págs. 456 do seu importantíssimo trabalho, Banha de Andrade recolhe alguns elementos respeitantes aos verdadeiros editores que imprimiram de forma recatada com receio das perseguições e castigos do Santo Ofício, onde atribui a Generoso Salomão, que nas sua oficina em Roma, terá dado à luz da imprensa o opúsculo supostamente impresso em Salamanca. Já relativamente à impressão que termina com uma ADVERTÊNCIA e sem qualquer indicação de registo tipográfico, reporta a impressão para o Convento dos Lóios, considerando-a 2.ª edição. Diz ainda o Prof. Banha de Andrade crer que a indicação do ano não seja exacta e que o folheto se não terá estampado antes de 1751, confirmando ainda a informação dada por Barbosa Machado e Inocêncio no que diz respeito à revelação do verdadeiro autor deste opúsculo publicado sob pseudónimo. Atribui assim, e de forma inequívoca, a autoria deste ‘Parecer’ a Luis António Vernei. Refere, no entanto, os «Subsídios para um Diccionário de Pseudónimos» de Martinho da Fonseca, onde diz que, talvez influenciado por Téofilo Braga [no texto preliminar dos ‘Subsídios’ intitulado «Poucas Palavras], inventa um pseudónimo que julgamos não ter existido.
Banha de Andrade continua, dizendo que Martinho “Atribui o ‘Parecer’ a Apolónio Filomeno, que identifica com Luis Vernei, mas que a seguir se refere a Apolonio Philomuso Lisbonense [Lisboense ?] imaginando tratar-se de Alexandre de Gusmão (…)”. Conclui assim Banha de Andrade: “Ora, nos próprios ‘Subsídios para um Dicionário de Pseudónimos’, se encontram elementos para deslindar o equívoco — no título das «Advertências criticas sobre o juizo (…) que formou o Dr. Apolónio Filomuso e comunicou ao público em a resposta ao «Retrato de Morte-Còr (pág. 9). Esta resposta é o ‘Parecer’. Ficamos, pois, sem saber se Martinho da Fonseca pretende atribuir este panfleto a Vernei, se a Alexandre de Gusmão.”
De seguida transcrevemos as primeiras linhas do opúsculo que apresentamos, onde o autor começa por justificar as motivações que o levaram a redigir este opúsculo ou, de forma encoberta, procura desviar as atenções do Santo Ofício, sem deixar de entrar na contenda criada com a publicação do ‘Verdadeiro Método de Estudar’:
“Excelentisimo, e Reverendisimo Senhor. Manda-me V. E. dizer o meo parecer sobre o papel composto por *** debaixo do nome de ‘D. Alethophilo Candido de Lacerda’, [Joaquim Rebelo, autor do ‘Retrato de mortecor’], em que pertende impugnar o Autor do ‘Verdadeiro Metodo’ e me-ordena lhe diga, 1. ‘que fim se-propoz este autor: 2. que doutrina e metodo tem: 3. que utilidade pode rezultar a quem o-ler. (…)”.
Encadernação inteira de pele, da época.